1. O MAGISTÉRIO ECLESIÁSTICO
a) Documentos Pontifícios. Em vários documentos pontifícios, encontramos quase de contínuo, na expressão de "Rainha da terra e do céu", atribuída à Virgem Santíssima essa Realeza; ou em expressões de todo equivalentes. Recentemente ainda o imortal Pontífice Pio XI, não contente de bendizer e aprovar o projeto de dedicar-se à Catedral de Port-Said a Maria, Rainha do Universo, enviou a consagrá-la um Legado seu e ofereceu um preciosíssimo colar de ouro, cheio de diamantes, para a estátua de Maria. Além disso, permitiu à diocese de Port-Said acrescentar à Ladainha Lauretana a invocação: Regina mundi, ora pro nobis. Já antes de Pio XI, o imortal Pontífice Leão XIII fizera coroar em seu nome, em 1902, uma estátua de Maria, Rainha do Universo, venerada em Friburgo, na Suíça.
a) Documentos Pontifícios. Em vários documentos pontifícios, encontramos quase de contínuo, na expressão de "Rainha da terra e do céu", atribuída à Virgem Santíssima essa Realeza; ou em expressões de todo equivalentes. Recentemente ainda o imortal Pontífice Pio XI, não contente de bendizer e aprovar o projeto de dedicar-se à Catedral de Port-Said a Maria, Rainha do Universo, enviou a consagrá-la um Legado seu e ofereceu um preciosíssimo colar de ouro, cheio de diamantes, para a estátua de Maria. Além disso, permitiu à diocese de Port-Said acrescentar à Ladainha Lauretana a invocação: Regina mundi, ora pro nobis. Já antes de Pio XI, o imortal Pontífice Leão XIII fizera coroar em seu nome, em 1902, uma estátua de Maria, Rainha do Universo, venerada em Friburgo, na Suíça.
b) Liturgia. Além disso, a Igreja nos faz continuamente saudar, em sua liturgia, a Virgem Santíssima com o título de Rainha: "Salve Regina!", "Ave, Regina caelorum!", "Regina caeli, laetare!"
Depois, mais de 800 Bispos, dispersos por todo o mundo, indulgenciavam 
em suas respectivas dioceses uma prece dulcíssima à Realeza de Maria, a 
qual foi difundida por um grupo de piedosas senhoritas romanas e 
publicada em várias centenas de revistas. A realeza de Maria Santíssima 
é, portanto, uma daquelas verdades que estão contidas na pregação 
quotidiana e universal da Igreja e, por isso mesmo, no depósito da 
Revelação, isto é, na Escritura do Velho e do Novo Testamento, e na 
Tradição.
2. A SAGRADA ESCRITURA
a) Maria, profetizada e prefigurada no Velho Testamento como "Rainha". No
 Velho Testamento, a Realeza de Maria foi profetizada e prefigurada. Foi
 predita por Davi, seu antepassado, no Salmo 44, quando, ao descrever as
 núpcias do Rei incomparável, o Messias, disse: "Eis as filhas do Rei 
para te honrar — a Rainha está a teu lado, com ouro de Ofir... Cheia de 
glória é a real menina — pérolas e tecido de ouro são as suas vestes. — 
Sobre tapetes bordados, é levada ao Rei — atrás dela, as virgens, suas 
companheiras — são levadas a ti; — conduzidas com festiva exultação, — 
entram no palácio real" (Sl 44, 10-17). Esta Rainha, como a Esposa do 
Cântico dos Cânticos, em sentido alegórico e literal é, além da Igreja e
 de modo especial, Maria, o membro mais eminente da Igreja.
Foi prefigurada, em seguida, de modo todo particular, por Betsabé, mãe 
do Rei Salomão e por Ester, esposa de Assuero. No livro terceiro dos 
Reis (3, 19-20), conta-se que Betsabé dirigiu-se para onde estava o rei 
Salomão, seu filho, a fim de interceder a favor de Adonias. O Rei 
levantou-se, foi a seu encontro e, voltando a sentar-se, quis que, à sua
 direita, sobre outro trono, sentasse também sua mãe. E esta lhe disse: 
Venho pedir-te uma pequena graça. Não me deixes voltar abatida! — Pede 
então, minha mãe, respondeu o Rei, é muito justo que te satisfaça. — Eis
 uma esplêndida imagem do quanto aconteceu e de quanto acontece 
continuamente no céu entre Maria e seu divino Filho. Entretanto no céu 
no dia da Assunção, onde ia interceder por nós, seu divino Filho foi a 
seu encontro e a fez sentar-se à sua direita, sobre um trono vizinho ao 
seu. E, às preces da Rainha, o Filho Rei não nega nada.
Outra figura radiosa de Maria Rainha é Ester, esposa do Rei Assuero (Est
 2, 17; 5, 3). "O Rei", assim se lê, "amou-a mais do que a todas as 
outras mulheres, pôs em sua cabeça um diadema real e a fez Rainha, em 
lugar de Vasti. E ordenou que se fizesse um suntuoso banquete para todos
 os príncipes e todos os servos, no matrimônio e nas núpcias de Ester...
 E concedeu um feriado a todas as províncias, e distribuiu dádivas com 
munificência de príncipe... Ester revestiu-se com o manto real e 
penetrou no átrio interno do apartamento do Rei e se postou em frente da
 sala deste. O Rei estava sentado no trono, colocado no fundo da sala. 
Apenas Assuero a viu, apresentou-lhe o cetro de ouro que tinha na mão. 
Então, Ester aproximou-se e beijou a extremidade do cetro. E o Rei lhe 
disse: Que queres, Rainha Ester? Que pedes? Mesmo que pedisses a metade 
de meu reino, ser-te-ia dada". O comportamento de Assuero para com Ester
 não é, porventura, uma pálida imagem do procedimento de Jesus, Rei dos 
Reis, para com Maria, Rainha das Rainhas?
b) Maria saudada como "Rainha" no Novo Testamento. Profetizada e 
prefigurada no Velho Testamento, Maria Santíssima é saudada como Mãe do 
Rei e, por isso mesmo, Rainha no Novo Testamento. É saudada como Mãe de 
um Rei pelo Arcanjo São Gabriel, na Anunciação. Falando-lhe, com efeito,
 do Filho que ela conceberá e dará à luz, diz: "E o Senhor Deus lhe dará
 o trono de Davi, seu pai e reinará eternamente na casa de Jacó" (Lc 1, 
32). É saudada como "Mãe do Senhor", isto é, do Rei dos Reis, por Santa 
Isabel, a qual, como nota o Evangelista, falava sob a moção do Espírito 
Santo; "cheia do Espírito Santo" exclamou: "Como me é dado que a Mãe de 
meu Senhor venha a mim?" (Lc 1, 44). Também no Apocalipse (12, 5), a 
Virgem Santíssima, a mulher vestida de sol e coroada com um diadema de 
doze estrelas é apresentada como Mãe de um Filho que deve governar todas
 as nações com uma mão de ferro. Isto posto, é muito pequeno e muito 
fácil o passo da "maternidade do Rei" para o título de "Rainha". São, 
com efeito, expressões que se equivalem.
3. A TRADIÇÃO
a) Padres, Doutores e Escritores Eclesiásticos. À palavra de 
Deus, contida na Sagrada Escritura, faz eco, harmoniosa, a voz dos 
séculos cristãos. O privilégio da Realeza de Maria o título de Rainha, de Imperatriz, de Soberana ou Senhora[1].
 Eclesiásticos do Oriente e do Ocidente. Teríamos de nos alongar muito 
mesmo se quiséssemos limitar-nos a referir seus testemunhos principais. 
Um célebre Mariólogo do século XVII, Marracci, em sua Polyantea Mariana, chegou a enumerar 135 escritores que deram a Maria o título de Rainha, de Imperatriz, de Soberana ou Senhora[2]. Só a palavra Rainha ocupa 13 grandes páginas de citações[3].
b) As antigas pinturas de Maria "Rainha". O modo mesmo por que a 
Virgem Santíssima é retratada nas antigas pinturas das Catacumbas nos 
deixa compreender como estava inscrito profundamente na mente e no 
coração daqueles primeiros cristãos o inefável privilégio da Realeza de 
Maria. Em uma pintura das Catacumbas de Priscila, a qual monta ao início
 do II século, a Virgem Santíssima se acha representada no ato de 
apresentar seu divino Filho à adoração dos Magos. Embora a Virgem não 
esteja sentada, como nas pinturas dos séculos III e IV, traz contudo 
atavios que recordam os das Imperatrizes da primeira metade do II 
século, sem véu algum sobre si[4]. No século IV, a 
Virgem é representada como uma Rainha no mármore negro do Museu 
Kircheriano e nos fragmentos de Damons-el-Karita[5]. 
No século VI, encontramos Maria representada nas âmbulas conservadas em 
Modena. Aí se vê uma Rainha, cheia de sua majestade: o mesmo tipo que se
 depara nos famosos mosaicos de Santo Apolinário, em Ravena, nos 
afrescos de Santa Maria Antiga, junto ao Fôro Romano e, mais tarde, nos 
portais de várias igrejas do século XII[6].
4. A VOZ DA TRADIÇÃO
a) A Virgem Santíssima, Rainha no sentido metafórico. A razão, 
trabalhando com os vários elementos fornecidos pela Revelação através da
 Escritura e da Tradição, esclarece o fato e a natureza da Realeza de 
Maria. A Virgem Santíssima é, então, chamada de Rainha não somente em 
sentido metafórico, mas também em sentido próprio. Rei e Rainha em 
sentido metafórico e, portanto, impróprio se dizem aquele e aquela que 
sobressaem, de modo singular, sobre seus semelhantes em alguma 
prerrogativa comum. Assim, por exemplo, o leão é chamado rei das selvas 
pela sua força singular; a rosa é chamada rainha das flores pela sua 
singular beleza. É evidente, nestes casos, o sentido metafórico das 
palavras rei e rainha. Outro tanto se pode dizer de Cristo e Maria. 
Assim, a Virgem Santíssima pode ser chamada metaforicamente Rainha de 
toda beleza, pela singular formosura de seus traços; Rainha da 
santidade, pela singular plenitude de sua graça, princípio de virtudes e
 de méritos incalculáveis. E, de fato, a Igreja a invoca de contínuo nas
 Ladainhas Lauretanas como Rainha de todos os Santos, genericamente: 
"Regina Sanctorum omnium", porque supera a todos na santidade da vida, 
mesmo tomados todos eles juntos; invoca-a, em seguida, de modo mais 
particular, como "Rainha dos Anjos", porque a todos excede no acúmen do intelecto; "Rainha dos Patriarcas", porque a todos sobrepuja no heroísmo e na piedade; "Rainha dos Profetas", porque a todos se sobrevela no dom de profecia; "Rainha dos Apóstolos", porque a todos vence no zelo; "Rainha dos Mártires", porque a todos precede na fortaleza; "Rainha dos Confessores", porque a todos se avantaja na confissão da fé; "Rainha das Virgens", porque a todas transcende na imaculada pureza. Jesus e Maria, por sua beleza singular, são o Rei e a Rainha de toda a criação.
b) A Virgem Santíssima, Rainha em sentido próprio. Mas, além de 
lhes convir em sentido metafórico e impróprio, os títulos de Rei e de 
Rainha convêm a Cristo e a Maria, respectivamente, também em sentido 
próprio, em vista do seu primado não só de excelência, mas também de 
poder sobre todas as coisas. É bem verdade que só a Deus, como autor de 
todas as coisas, convém essencialmente a Realeza universal sobre todas as criaturas, que Ele governa e conduz a seu fim. Mas é também verdade que Jesus e Maria participam dessa
 Realeza universal, que convém essencialmente só a Deus. De que modo? 
Cristo, mesmo como homem, participa dessa Realeza de duas maneiras: por 
direito natural e por direito adquirido. Por direito natural, antes de tudo, por causa de sua personalidade divina, ou seja, por força da união hipostática. E por direito adquirido,
 isto é, por causa do resgate do gênero humano, por Ele operado, do 
domínio de Satanás. Outro tanto, de modo paralelo, mas analógico, 
podemos dizer de Maria. Ela é Rainha em sentido próprio por dois 
títulos: por direito natural e por direito adquirido. Por direito 
natural, em vista do fato mesmo de ser Mãe do Deus-Homem. De fato, como a
 Mãe de Deus feito homem, Ela pertence à ordem da união hipostática 
(pois a humanidade de Cristo é também termo da maternidade divina) e 
participa assim da dignidade real de seu divino Filho. E é também Rainha
 por direito adquirido, pois que associada intimamente com Cristo na obra de nosso resgate é verdadeira Co-redentora, ao lado do Redentor.
c) Uma objeção. Não vale objetar que a mãe de um Rei, que se 
chama comumente de Rainha-Mãe, não é, de fato, Rainha em sentido 
próprio, pois não tem a autoridade real, como se poderia dizer ser o 
caso de Maria.
A resposta a essa objeção não parece nada difícil. É evidente, com 
efeito, que não há, nem pode haver paridade alguma entre a assim chamada
 Rainha-Mãe e a Virgem Santíssima. A Rainha-Mãe é simplesmente mãe de 
alguém que não nasceu Rei, mas isto se tornou posteriormente. A Virgem 
Santíssima, pelo contrário, é Mãe de quem foi Rei desde o primeiro 
instante de sua concepção. Concebeu-o a Virgem não somente como Deus, 
mas também como Rei, tendo Ele sido concebido e dado à luz
 por Ela como Rei, em razão mesmo da união hipostática. Podem 
aplicar-se, portanto, à Virgem Santíssima com toda razão aquelas 
palavras do Cântico dos Cânticos: "Vêde o Rei no diadema com que o 
coroou sua Mãe" (Cant 3, 11). Comenta Santo Ambrósio: "Coroou-o quando o
 formou, quando o gerou" (PL. 16, 328 D.). Em razão, portanto, da 
maternidade divina de Maria a Mãe de Deus vem a ser partícipe da 
dignidade real do Deus-Homem, seu Filho, adquirindo assim certo domínio 
sobre todas as coisas.
d) Natureza e extensão da Realeza de Maria. A Virgem Santíssima, 
portanto, é e deve ser chamada Rainha do universo não só em sentido 
metafórico, mas também em sentido próprio. Como a de Cristo, a Realeza 
de Maria é, também, principal e diretamente uma Realeza sobrenatural e espiritual; secundariamente,
 porém, e indiretamente é também uma Realeza natural e temporal, isto é,
 se estende também às coisas naturais e temporais, enquanto estas se 
referem ao fim sobrenatural e espiritual.
Como a de Cristo, assim também a Realeza de Maria não conhece limites de
 espaço, nem de tempo: estende-se a todos, a tudo e sempre à terra, ao 
céu, ao Purgatório e ao Inferno.
Estende-se, antes de tudo, à terra, pois que as graças que descem do céu
 sobre a terra passam, pela vontade de Deus, através do coração e das 
mãos de Maria. Estende-se ao céu, sobre todos os bem-aventurados, seja 
porque sua graça essencial é devida, além dos méritos de Cristo, também 
aos de Maria; seja porque sua graça acidental precípua é causada pela 
amabilíssima presença da Virgem. Estende-se ao Purgatório, levando os 
fieis da terra a sufragarem de muitos modos as almas que ali sofrem e 
aplicando a estas, em nome do Senhor, os méritos e as satisfações de seu
 divino Filho, e os seus próprios. Estende-se, por fim, ao Inferno, 
fazendo tremer os demônios, tornando vãos seus assaltos para a perdição 
das almas. Não há, portanto, ponto algum do universo sobre que a Virgem 
Santíssima não estenda sua Realeza. 
Por Pe. Gabriel Roschini
Por Pe. Gabriel Roschini
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[1] Cf. BOURASSE, Summa Aurea, vol. 9 e 10.
[2] Idem.
[3] L. c., vol. 10, col. 192-212.
[4] Cf. Dict. Archéol. Chrét., art. Mages, t. IX, col. 995.
[5] Cf. DELATTRE, Le culte de la S. Vierge en Afrique, Paris, 1907, p.5-6.
[6] Cf. MALE, L'art réligieux du XII siècle en France, 3ª ed., Paris, 1928, p.56.
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ROSCHINI, G. Instruções Marianas. Tradução de José Vicente. São Paulo: Edições Paulinas, 1960, p.111-114.

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