MAIO COM MARIA: Dia 15 - Para todos é Maria um trono de misericórdia



Predissera o profeta Isaías que pela grande obra da redenção nos devia ser preparado um sólio de misericórdia  “E será estabelecido um sólio em misericórdia” (16, 5). Mas qual é esse sólio? É Maria, na qual acham confor­tos de misericórdia, não só os justos, mas também os pecadores, responde Conrado de Saxônia. Assim como o Salvador é cheio de piedade, também o é Nossa Senhora; à semelhança do Filho, a Mãe nada pode recusar a quem a chama em seu socorro. Guerrico, Abade, faz Jesus dizer a Maria: Minha Mãe, em vós quero colocar a sede do meu reino e por intermédio vosso hei de espalhar as graças que me forem solicitadas. Vós me destes o ser humano, e eu vos darei ter parte em minha onipotência, com a qual possais ajudar e salvar a quem quiserdes.

Com grande afeto dirigia S. Gertrudes certa vez as sobreditas palavras à Virgem Santíssima: A nós volvei esses vossos olhos misericordiosos. Apareceu-lhe então a Senhora com o Menino Jesus nos braços e, mostrando-lhe os olhos de seu divino Filho, disse: São estes os olhos misericordiosos que posso inclinar, a fim de salvar todos aqueles que me invocam.

Chorando uma vez um pecador diante de uma imagem de Maria, e pedindo-lhe que lhe alcançasse de Deus o perdão de seus pecados, viu a bem-aventurada Virgem voltar-se para o Menino que tinha nos braços e lhe dizer: Filho, perder-se-ão estas lágrimas? Reconheceu o infeliz que Jesus Cristo lhe concedera o perdão.

E como poderia perecer quem se encomenda a esta boa Mãe? Não lhe prometeu seu Divino Filho usar de misericórdia por seu amor e segundo seu desejo, para com todos os que a ela recorrem? Tal foi a promessa que S. Brígida ouviu o Senhor fazer à sua Mãe. Considerando tanto o grande poder de Maria junto a Deus, como sua grande piedade para conosco, escreveu o Abade Adão de Perseigne: Ó Mãe de Misericórdia, quanto é o vosso po­der, tanta é a vossa piedade; quanto sois poderosa para impetrar, tanto sois também piedosa para perdoar. E como, pois, se poderá dar o caso de não terdes compaixão dos miseráveis, sendo vós Mãe de Misericórdia? Ou quando não podereis vós ajudá-los, sendo Mãe de onipo­tência? Tão fácil vos é conhecer nossas misérias, como realizar todos os vossos desejos. Fartai-vos, pois, (diz o Abade Roberto), fartai-vos, ó grande Rainha, da glória de vosso Filho, e por compaixão distribuí-nos as migalhas a nós, pobres filhos e servos vossos. Não as merecemos, é verdade; mas fazei-o por compaixão para conosco.

Se, por causa de nossos pecados, nos invadir a desconfiança, digamos com Guilherme de Paris: Ó Senhora minha, não me lanceis em rosto meus pecados, porque lhes oporei vossa grande misericórdia. Jamais se diga que minhas culpas puderam contrabalançar no juízo a vossa misericórdia. Pois esta é muito mais eficaz para obter-me o perdão, que todos os meus pecados para valerem-me a condenação.

Exemplo

Um grande pecador no reino de Valença entregara-se ao desespero e resolvera fazer-se maometano. Esperava com isso escapar às mãos da justiça.

Já resolvido a embarcar, passou por acaso defronte de uma igreja onde o Padre Jerônimo López, jesuíta, pregava sobre a misericórdia da Mãe de Deus. Tocado pelo sermão, foi confessar-se com o pregador. Perguntou-lhe este se havia con­servado alguma devoção particular que lhe tivesse merecido de Deus tão grande misericórdia. O interrogado disse que todos os dias pedia a Nossa Senhora que não o abandonasse. O mesmo sacerdote encontrou num hospital um pecador que, havia cinco anos, não se confessava. Conservara-se, entretanto, fiel a certa prática de devoção. Sempre que via uma imagem da Mãe de Deus, saudava-a e lhe pedia que o não deixasse morrer em pecado mortal. Contou que certa vez na luta contra o inimigo se lhe quebrara a espada. Dirigiu-se a Maria, dizendo-lhe: Ai de mim, miserável! Estou morto e condenado; Mãe dos pecadores, vinde em meu socorro! A essas palavras, sem saber como, achou-se levado para um lugar seguro. O pobre pecador fez em seguida uma boa confissão geral, e morreu cheio de confiança.

Oração 



O Virgem sacrossanta, entre todas as criaturas a maior e a mais sublime, eu vos saúdo, aqui, deste vale de lágrimas. Infeliz e miserável rebelde que sou, mereço castigos e não favores, justiça e não misericórdia. Se­nhora, eu não digo isto, porque desconfie da vossa pie­dade. Eu sei que vos gloriais de ser benigna em proporção de vossa grandeza. Sei que vos alegrais de vossas rique­zas, por fazê-las partilhar aos pecadores. Sei que quanto mais necessitados são os que a vós recorrem, tanto mais vos empenhais em protegê-los e salvá-los. O minha Mãe, sois aquela que um dia chorastes vosso Filho morto por mim. Oferecei, vos rogo as vossas lágrimas a Deus, e por elas alcançai uma dor verdadeira dos meus pecados. Tanto vos afligiram os pecadores, tanto vos estou eu ainda afligindo com minhas iniqüidades. Obtende-me, ó Maria, que ao menos de hoje em diante não continue a afligir a vosso Filho e a vós com minhas ingratidões. 

E de que me teriam servido vossas lágrimas, se eu continuasse a ser ingrato? De que me valeria a vossa misericórdia, se novamente vos fosse infiel e me conde­nasse? Não; minha Rainha, não o permitais. Vós tendes suprido todas as minhas faltas. Vós alcançais de Deus tudo o que que reis. Sois sempre propícia a quem vos invoca. Peço-voSy pois, estas duas graças que espero e quero de vós; obtende-me que seja fiel a Deus, não o ofendendo mais; e que o ame todo o resto de minha vida, tanto quanto o tenho ofendido.



(Glórias de Maria – Santo Afonso Maria de Ligório)

*Grifos meus.

Comentários