Maria é para os pecadores uma segura esperança
Maria
comparada ao plátano: Eu cresci como o plátano (Eclo 24, 14). A isso bem
atendam os pecadores. O plátano oferece agasalho ao viandante que em sua sombra
pode repousar, livre dos raios do sol. Também Maria, quando vê acesa contra
eles a ira da divina justiça, os convida a refugiarem-se à sombra da sua
proteção. Lamentava-se o profeta Isaías em seu tempo, dizendo "Eis aí está
que tu te iraste, Senhor, porque nós pecamos...; não há quem se levante e te
detenha" (64, 5, 7). Senhor, estais justamente irado contra os pecadores,
queria ele dizer: não há quem por nós vos possa aplacar. Assim gemia o profeta,
diz Conrado de Saxônia, porque então Maria ainda não era nascida. Mas agora, se
Deus está irado contra qualquer pecador e Maria toma à sua conta protegê-lo,
ela detém o Filho, para que não o castigue, e salva-o. Ninguém há, continua
Conrado, mais apto do que ela para suspender a espada da divina justiça, para
que não descarregue o golpe sobre os pecadores. Sobre este mesmo pensamento diz Ricardo de S. Lourenço que Deus, antes
de no mundo existir Maria, se queixava de não haver quem o impedisse de punir
os pecadores; mas agora é Maria quem o aplaca.
Ó pecador - exclama Basílio de Seleucia - não
percas a confiança, mas recorre a Maria em todas as necessidades; chama-a em
teu socorro, pois a encontrarás sempre pronta para te valer, porque é vontade
de Deus que ela nos valha em todos os nossos apuros. Tem esta Mãe de
Misericórdia mui vivo desejo de salvar os pobres pecadores. Por isso vai
pessoalmente em busca deles para os ajudar e sabe como reconciliá-los com Deus,
se a ela recorrem.
Desejava
Isaac comer alguma caça e prometeu a Esaú que o abençoaria, se lha trouxesse.
Mas Rebeca queria que esta bênção coubesse a Jacó, outro filho seu. Mandou-o
por isso buscar dois cabritos e guisou-os ao gosto de Isaac (Gn 27, 9). Os
cabritos são uma imagem dos pecadores e Rebeca, segundo S. Antonio, é figura de
Maria. Trazei-me os pecadores, diz a Senhora aos anjos, quero prepará-los,
obtendo-lhes contrição e bom propósito, para que se tornem dignos e agradáveis
a meu Senhor. Revelou a própria Virgem Santíssima a S. Brígida que não há no
mundo pecador tão inimizado com Deus, que se não converta e recupere a divina
graça, se a invocar e a ela recorrer. Certo
dia a mesma santa ouviu Jesus Cristo dizer a sua Mãe que ela estaria pronta a
obter a divina graça até mesmo a Lúcifer, caso este se humilhasse e implorasse
seu auxílio. Jamais aquele espírito soberbo saberá humilhar-se para impetrar o
socorro de Maria. Fora isso, entretanto, possível, dele tivera a Virgem piedade
e o poder de suas preces lhe obtivera perdão e salvação. Mas o que não é possível a respeito do demônio
acontece com os pecadores que se dirigem a esta compassiva Mãe.
Figura foi
de Maria a arca de Noé. Pois como nela acharam abrigo todos os animais da
terra, igualmente sob o manto de Maria encontraram refúgio todos os pecadores,
cujos vícios e pecados sensuais os tornam semelhantes aos brutos. Há esta
diferença entretanto, observa Pacciucchelli: na arca entraram os brutos e
brutos ficaram. O lobo ficou sendo lobo e o tigre ficou sendo tigure. Mas debaixo do manto de Maria o lobo é
mudado em cordeiro e o tigre em
pomba. Um dia viu s, Gertrudes a Maria com o manto aberto e
debaixo dele muitas feras de diversas espécies: leopardos, ursos, etc. Viu
também que a Virgem não só não os afugentava, mas antes docemente os recebia e
afagava. Entendeu a santa que eles figuravam os míseros pecadores, acolhidos
por Maria com afável amor, quando a ela recorrem.
Razão sobejava, pois, a Egídio de
Schoenau ao dizer à Santíssima Virgem: "Senhora, não detestais a nenhum pecador, por mais asqueroso e
abominável que seja. Se ele implora vossa proteção, nunca deixais de
estender-lhe compassiva mão para arrancá-lo do abismo do desespero".
Bendito e para sempre louvado seja Deus, que vos fez, ó Maria amabilíssima, tão
compassiva e tão benigna até para com os mais miseráveis! Infeliz de quem não
vos ama, e que podendo recorrer a vós, em vós não confia! Perde-se quem a Maria
não recorre, mas quem jamais se perdeu, depois de implorá-la?
*Grifos
meus.
Fonte:
Glórias de Maria, Santo Afonso de Ligório
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