La Dolorosa - Bartolome Mancini |
Feliz, feliz
aquele que vos ama, ó Maria, Mãe dulcíssima! S. João Berchmans, da Companhia de Jesus,
costumava dizer: Se amo a
Maria, estou certo da minha perseverança e de Deus obtenho tudo o que quiser. Renovava por isso sem cessar este
propósito: quero amar a Maria,
quero amá-la sempre. Dizia-o
seguidamente, a sós e baixinho. - Oh! Como esta boa Mãe excede em amor a todos
os seus filhos! Amem-na estes quanto puderem, sempre serão vencidos pelo amor
que lhes consagra Maria, observa Pseudo-Inácio, mártir.
Cheguem a
amá-la como um S. Estanislau Kostka, tão terno em seu amor para com esta Mãe.
Dela falando, abrasava os corações de quantos o ouviam. Imaginaram-se novos
títulos e novas palavras em seu louvor. Não começava trabalho algum, sem
primeiro pedir-lhe a bênção voltado para alguma de suas imagens. Ao recitar o
ofício, o rosário, ou outras orações em sua honra, com tanta cordialidade o
fazia, como se estivesse falando com a Virgem, face a face. Os sons da Salve,
Rainha, afogueavam-lhe as faces em santo amor. Visitando certa vez com um padre
jesuíta uma imagem da Santíssima Virgem, perguntou-lhe o companheiro se também
a amava. - Ó meu padre - respondeu o Santo - que mais posso dizer-vos? É minha Mãe! E tanta ternura notava-se então, diz o padre, na
sua voz e no seu semblante, que parecia menos um jovem do que um anjo a falar
do amor de Maria Santíssima.
Cheguem a
amá-la como um Beato Hermano, que a chamava de esposa amada e por Maria em retorno foi honrado com
o título de esposo; como um S. Filipe Néri, a quem só o pensar em Maria já
consolava, e por isso chamava-lhe suas delícias. Que a amem como um S.
Boaventura, o qual, para testemunhar-lhe a ternura de seu afeto, não só a
chamava de Senhora e Mãe, senão também de seu
coração e de sua alma. Abrasado
em santo amor, dizia-a até roubadora dos corações. Pois não roubaste meu
coração, minha boa Mãe? perguntava-lhe
então.
Chamem-na de sua namorada, como um S.
Bernardino de Sena, Todos os dias ia visitar-lhe uma das imagens devotas, para
em ternos colóquios entreter-se com a sua Rainha. Se lhe perguntavam aonde ia
diariamente, respondia andar visitando
sua namorada.
Cheguem a
querê-la tal como um S. Luís Gonzaga, tão abrasado em seu amor que, em lhe
ouvindo pronunciar o nome, tinha do amor as chamas no coração e os rubores na
face.
Por que não
amá-la como um S. Francisco Solano? Em santa simplicidade (que ao mundo parece
loucura) punha-se ele a cantar, ao som de um instrumento de música, diante de
alguma imagem da Senhora. Alegava
que, a exemplo dos apaixonados no mundo, queria fazer "uma serenata"
à sua diletíssima Rainha.
Tenham-lhe a mesma ternura de amor
com que a têm amado tantos de seus servos, que já nem sabiam o que mais fazer
como prova do muito que lhe bem-queriam. Jerônimo de Trexo, padre da Companhia
de Jesus, exultava de júbilo ao chamar-se escravo de Maria. Em sinal desta
escravidão ia visitá-la muitas vezes em algumas de suas igrejas. Em chegando à
igreja, primeiramente derramava lágrimas de um terno amor à Virgem. Depois
beijava o pavimento muitas e muitas vezes, com grande amor, considerando que
aquela era a casa da sua Senhora. Seu confrade, Padre Diogo Martínez, que pela
devoção a Maria Santíssima nas suas festas era levado em espírito ao céu pelos
anjos, para ver com quanta honra eram elas aí celebradas, este dizia: Desejara
ter todos os corações dos anjos e dos santos para com eles amar a Maria;
desejara ter as vidas de todos os homens para oferecê-las todas ao amor de
Maria.
Levados por amor,
assim fizeram os servos de Maria; Batista Arquinto e Agostinho de Espinosa,
ambos da Companhia de Jesus.
Façam, pois, ou
procurem fazer quanto é possível a um esposo amante que pretende, quanto pode,
dar a conhecer o seu afeto à esposa querida, jamais conseguirão amar a Maria
tanto quanto ela os ama. Sei, ó minha Rainha, exclamava S. Pedro Damião, que de
quantos vos amam sois a mais amante, e que vosso amor por nós não se deixa
vencer por nenhum outro amor. Estava uma vez ao pé de uma imagem de Maria o
Venerável Afonso Rodríguez, da Companhia de Jesus. Abrasado de amor para com a
Virgem Santíssima, lhe disse: Minha Mãe amabilíssima, bem sei que vós me amais;
mas vós não me quereis tanto quanto eu vos amo. Então, Maria, como que ofendida
em seu amor, lhe respondeu: Que dizes, Afonso, que dizes? Oh! quanto é maior o
meu amor por ti do que o teu por mim! Sabe, lhe disse, que do meu amor ao teu
há mais distância que do céu à terra.
Tem, pois, razão S. Boaventura ao
exclamar: Bem-aventurados aqueles que têm a dita de ser fiéis servos e amantes
desta Mãe amantíssima! Sim, porque esta gratíssima Rainha não admite que em
amor a vençam os seus devotos servidores. Maria, imitando nisto a Nosso Senhor
Jesus Cristo, com seus benefícios e favores dá a quem a ama o seu amor
duplicado. Exclamarei, pois, com o inflamado S. Anselmo: Sempre arda por vós o
meu coração, e toda a minha alma se consuma no vosso amor, ó Jesus, meu amado
Salvador, ó Maria, minha amada Mãe. Concedei, pois, ó Jesus e Maria, a graça de
amar-vos, já que sem a vossa graça não posso fazê-lo. Concedei à minha alma
pelos vossos merecimentos, não pelos meus, que eu vos ame quanto vós mereceis.
Ó Deus tão amante dos homens, vós pudestes morrer pelos vossos inimigos. E a
quem vo-la pede, poderíeis negar a graça de amar a vós e a vossa Mãe?
A Virgem Maria consola uma pastorinha moribunda que a honrou com humildes gestos durante sua vida
Conta o Padre Auriema que uma pastorinha de ovelhas tinha muito amor a Maria Santíssima. Todas as suas delícias eram ir a uma capela da Virgem, que estava no monte, e aí entreter se sossegadamente com sua boa Mãe, enquanto pastavam as ovelhas. E porque a pequena estátua da Mãe de Deus estava sem enfeite algum, pôs-se a fazer-lhe um manto; com suas pobres mãozinhas. Um dia, colhendo do campo algumas singelas flores, delas compôs uma grinalda. Depois, subindo ao altar, a pôs na cabeça da imagem, dizendo: Minha Mãe, eu quisera pôr-vos na cabeça uma coroa de ouro, mas não posso porque sou pobre. Assim recebei de mim esta pobre coroa de flores; aceitai-a em sinal do amor que vos tenho. Com estes e semelhantes obséquios buscava a piedosa pastorinha servir e honrar a sua amada Rainha. Ora, vejamos agora como a boa Mãe recompensou as visitas e o afeto desta sua filha.
Caiu ela enferma e chegou a termos de morrer. Sucedeu que dois religiosos passando por aquele lugar, e cansados da viagem, se puseram a descansar debaixo de uma árvore. Um dormia e o outro estava acordado. Mas ambos tiveram a mesma visão. Viram um grupo de belíssimas virgens, e entre elas estava uma que em beleza e majestade excedia a todas. A esta perguntou um dos religiosos: Quem sois vós, Senhora, e aonde ides? - Eu - respondeu a Virgem - sou a Mãe de Deus e vou com estas santas virgens visitar aqui na aldeia uma pastorinha moribunda, que muitas vezes me visitou a mim. Assim disse e desapareceu. Disseram então aqueles bons servos de Deus: Vamos nós também vê-la! Prepararam-se; e, chegando à casa onde estava a pastorinha moribunda, entraram na pobre choupana e ali a viram deitada sobre um pouco de palha. Saudaram-na; ela fez o mesmo e lhes disse: Irmãos, rogai a Deus que vos faça ver quem me está assistindo. Logo ajoelharam-se eles e viram a Mãe de Deus que estava ao lado da pastorinha com uma coroa na mão, e a consolava. Eis que as virgens começaram a cantar, e ao som daquele suave canto saiu do corpo a bendita alma da pastorinha. Maria colocou-lhe então a coroa na cabeça, tomou-lhe a alma e levou-a consigo ao paraíso.
Caiu ela enferma e chegou a termos de morrer. Sucedeu que dois religiosos passando por aquele lugar, e cansados da viagem, se puseram a descansar debaixo de uma árvore. Um dormia e o outro estava acordado. Mas ambos tiveram a mesma visão. Viram um grupo de belíssimas virgens, e entre elas estava uma que em beleza e majestade excedia a todas. A esta perguntou um dos religiosos: Quem sois vós, Senhora, e aonde ides? - Eu - respondeu a Virgem - sou a Mãe de Deus e vou com estas santas virgens visitar aqui na aldeia uma pastorinha moribunda, que muitas vezes me visitou a mim. Assim disse e desapareceu. Disseram então aqueles bons servos de Deus: Vamos nós também vê-la! Prepararam-se; e, chegando à casa onde estava a pastorinha moribunda, entraram na pobre choupana e ali a viram deitada sobre um pouco de palha. Saudaram-na; ela fez o mesmo e lhes disse: Irmãos, rogai a Deus que vos faça ver quem me está assistindo. Logo ajoelharam-se eles e viram a Mãe de Deus que estava ao lado da pastorinha com uma coroa na mão, e a consolava. Eis que as virgens começaram a cantar, e ao som daquele suave canto saiu do corpo a bendita alma da pastorinha. Maria colocou-lhe então a coroa na cabeça, tomou-lhe a alma e levou-a consigo ao paraíso.
Oração
Ó doce Soberana, vós, conforme a expressão de S. Boaventura, arrebatais os corações dos que vos servem, cumulando-os de vossa ternura e liberalidade. Eu vos suplico: arrebatai-me também o meu pobre coração que muito deseja amar-vos. Pela vossa beleza, ó minha Mãe, atraístes o vosso Deus, ao ponto de fazê-lo descer do céu à terra; e eu viverei sem vos amar? Não; antes vos digo com vosso amante filho João Berchmans: "Não me darei repouso, enquanto não tiver obtido amor terno e constante a vós, ó minha Mãe", que com tanta ternura me tendes amado, ainda quando eu não vos amava. E que seria de mim, se vós, ó Maria, não me tivésseis amado e alcançado tantas misericórdias? Se, pois, me amastes quando que vos amo? Sim, amo-vos, ó minha Mãe, e quisera ter um coração capaz de vos amar por todos os infelizes que não vos amam. Quisera ter uma língua capaz de louvar-vos por mim línguas, para fazer conhecer a todo mundo a vossa grandeza, a vossa santidade, a vossa misericórdia, e o amor com que amais os que vos amam. Se tivera riquezas, todas quisera empregar em vos honrar; se tivera súditos, todos quisera fossem cheios de amor para convosco; quisera enfim sacrificar pelo vosso amor e glória, se fosse mister, até a minha vida! - Amo-vos, pois, ó minha Mãe; mas ao mesmo tempo receio que vos não ame, porque ouço dizer que o amor faz os que amam semelhantes à pessoa amada. Devo então crer que bem pouco vos amo, vendo-me tão longe de parecer convosco. Vós sois tão pura, eu tão imundo! Vós tão humilde, eu tão soberbo! Vós tão santa, eu tão mau! Mas isto, ó Maria, é o que vós haveis de fazer: já que me tendes tanto amor, tornai-me semelhante a vós. Para mudar os corações, tendes todo o poder; tomai, pois, o meu e mudai-o. Conheça o mundo o que podeis em favor dos que amais. Tornai-me santo e fazei-me digno filho vosso. Assim espero, assim seja.
*Grifos meus.
(Livro: Glórias de Maria - Santo Afonso Maria de Ligório)
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