Não estavam ainda formados os arcanos que Deus, eterno, infinito, sem limites, na imensidade de sua paz, planejava sôbre as obras primas dignas dÊle.
Desde então concebia milhões e milhões de seres que refletissem os seus divinos pensamentos e que no instante querido, e por Êle estabelecido, ao som da sua voz, surgissem obedientes às suas ordens tomando cada um o lugar que estava para eles assinalado.
Entre estas miríades de criaturas, haveria o homem, aquele homem que queria criar à sua imagem e semelhança.
Mas esta, a mais perfeita criatura que depois dos anjos deveria sair de suas mãos, logo que dotada de liberdade, se desviaria do seu divino plano: cometeria uma culpa e infringindo as suas leis, se afastaria dÊle para sempre. E Deus, em quem já palpitava um coração de pai, como poderia esquivar-se ao amor que sentia por esse homem, embora culpado? Não o ideava, justamente para receber dele um louvor eterno?
Ve-lo-ia pois perdido para sempre, tornado inútil para sua glória, tão estupenda obra criadora?
Oh! Não! Deus já o amava demasiado para não conceber um outro plano de amor, que reabilitando-o, o restituísse, de novo, às suas ternuras paternas; e pensou em dar-lhe um Redentor.
Por este homem culpado sacrificaria a si mesmo, na pessoa de seu único Filho, que mandaria à terra, fazendo-o assumir uma natureza humana, que unida à divina, fosse em tudo - exceto no pecado - semelhante ao homem. É o homem que cometeu a culpa, e Deus quer que seja resgatado por um outro homem, ou melhor por um Homem Deus; a Ele competeria reunir a criatura ao Criador.
Mas como se isto ainda fosse pouco, como se seu amor não estivesse ainda saciado, quis que estas criaturas tivessem também uma mãe; e pôs ao lado de Jesus uma medianeira: o Verbo humanado o resgataria mediante o próprio sangue e a mãe o teria ajudado nesta obra redentora, salvando-o mediante a dor e as inefáveis ternuras de um coração materno.
Maria, a humilde Virgem de Nazaré, foi como o complemento dos grandes e eternos ideais de Deus. Ela - como dizem alguns Padres da Igreja - é uma espécie de imagem da Santíssima Trindade; é por assim dizer, um lago tranquilo de águas transparentes, sobre as quais, não obstante a distância, refletem-se de maneira clara e fiel os maravilhosos atributos de Deus e suas celestes sublimidades. Deus a concebeu na beleza mais perfeita, luz mais resplendente e a enriqueceu com a plenitude da graça, como convinha a uma criatura destinada a ser mãe de Deus; e fez tudo isto, não no tempo, não em momento dado, mas deste toda a eternidade.
Maria, esta criatura tão sublime e excelsa, convida todos os filhos a se concentrarem em torno dele, quer que ouçam sua voz, quer sigam a luz dos seus exemplos, pois quem encontrou Maria encontrou Jesus e encontrando Jesus encontra a graça, a vida da alma e a eterna bem-aventurança. Ela é uma criatura vestida de sol eterno como a viu São João no Apocalipse, mas se é a plenitude da graça, é também uma criatura vestida e coberta de compaixão e de misericórdia por nós pecadores. Possue um coração expressamente criado por Deus para acolher em si todo o oceano das misérias humanas, para dar guarida às fraquezas inerentes à natureza corrupta e apertar entre os braços o pecador que, embora sabendo-a toda pura, toda bondade, toda misericórdia se refugia em seu coração, certo de que ela o ouvirá cheia de compaixão, obtendo-lhe daquele Criança que se assenta ao colo, graça, misericórdia e perdão.
É justamente o atrativo que emana de sua inocência e de sua beleza que atrai a si as almas, muitas das quais mergulhadas na lama do vício e do pecado.
A Mãe de Deus é também Mãe do pecador, a Mãe do Juíz e do filho transviado, reconciliará entre si estes dois filhos, obtendo do fruto de seu seio, para aquele que vê arrependido a seus pés, o ingresso na pátria celeste.
Se é pelo amor que Jesus tem aos homens, que obtemos misericórdia e perdão, é também pelo amor daquela que Ele chama com suave nome de Mãe; se Jesus é caminho, verdade e vida, se ninguém vai ao Pai se não por Ele, também não se chega a Jesus se não por Maria. Somente Jesus nos salvará, é verdade, mas ao seu lado há sempre uma medianeira, a Mãe celeste que começa a obra da nossa salvação afim de consumá-la na de nossa santificação.
Muitas e muitas vezes cairemos feridos na luta contra o inimigo mas a mão acariciadora de Maria, pousando delicadamente sobre as feridas as aliviará e as curará.
Portanto tenhamos confiança: confiança em Deus que nos amou antes que o mundo existisse, confiança em Jesus que deixou o seu belo céu para encarnar-se, sofrer e morrer por nós: confiança ilimitada na sua e nossa Mãe, porque é ela um manancial inexaurível de bens espirituais, e o canal pelo qual, sobre nós, se derramam todas as graças e todos os dons...
Minha Mãe, minha confiança!
Oh! Se a alguma alma faltar, ainda coragem de chamar Deus com o belo nome de Pai, se ainda titubear em invocar Jesus com o doce nome de Salvador, não hesite mais: olhe para Maria, invoque Maria, chame Maria: Ave-Maria!
Livro: Minha Mãe, Minha Confiança, Vida da Santíssima Virgem
Carmelitas de S. M. Madalena de Pazzi
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