Em vez de te chamar por teu nome, Maria, o anjo Gabriel
te deu um outro: o nome que possuis aos olhos de Deus. Chama-te “cheia de graça”.
És diferente de todas as outras criaturas humanas por causa da plenitude da
graça. És a única pessoa no mundo que a graça divina tornou perfeita.
Desde o primeiro instante de tua existência, desde a tua
conceição, foste isenta do pecado. No momento em que criava tua alma, Deus
preservou-a de toda manha e de todo o poder de satanás. Ele te fez Imaculada, e
Imaculada te conservou durante toda a vida.
Num mundo, em que o espetáculo do pecado é tão
acabrunhador e onde se manisfestam tão profundas misérias morais, o Criador
quis fazer surgir uma alma inteiramente pura. Tanto o olhar divino deplora as
faltas dos homens e a degradação que arrastam consigo, como se compraz, sem
reserva, em tua admirável perfeição. O próprio Deus te desejou essa perfeição.
Queria alguém a quem pudesse olhar sem se cansar, uma beleza humana que pudesse
contemplar sem decepção. Queria uma alma que lhe pertencesse totalmente, que
nunca se afastasse dele e só lhe oferecesse alegria e amor. Dentro de um
universo onde as trevas tentam extinguir a luz, Deus colocou uma luz sem
sombras.
Por isso, Maria, tua Imaculada Conceição, antes de se
tornar uma alegria para toda a Igreja, foi primeiramente uma alegria do céu
inteiro e do próprio Deus. Desde aquele momento, o céu se refletiu
perfeitamente na terra, no mistério de uma alma. Com uma alegria sempre nova, o
Criador pode considerar-te a obra-prima inexcedível do seu poder e do seu amor.
Houve belas figuras de mulheres, no Antigo Testamento.
Sara, mulher de Abraão, que se tornara mãe por especial intervenção de Deus,
destinada a ter uma descendência tão numerosa quanto a areia do mar. Maria, a
irmã de Moisés, cantara um hino de ação de graças, um primeiro Magnificat, pela
libertação do povo judeu. Judite, cheia de confiança em Deus e de coragem,
decapitara o inimigo de sua nação e derrotara o exército dos invasores. Estér
usara de seu poder de rainha para salvar os compatriotas, não temendo expor a
própria vida para lhes obter a salvação. Susana perseverara heroicamente na
castidade e preferira morrer a ofender ao Senhor. Todas estas figuras
prenunciavam-te, Maria, mas eram ainda imperfeitas. Nenhuma delas foi isenta do
pecado; por mais luminosas que fossem, tinha suas sombras e fraquezas.
Em ti, ao contrário, uniram-se todas as perfeições destas
mulheres, e nenhuma imperfeição te atingiu. És a libertadora e vencedora do
inimigo do gênero humano; és a mãe de uma inumerável descendência; és rainha,
empenhada em usar de teu poder pela salvação dos homens; és a Virgem de
irrepreensível castidade; teu Magnificat foi a mais vibrante expressão de
reconhecimento que já se elevou até Deus. Mas além de tudo isso, és a
Imaculada, a Cheia de Graça.
É um privilégio que te foi exclusivamente reservado. Nós,
cristãos, antes de recebermos a graça divina, trazemos a manha do pecado
original, e conservamos seus vestígios na secreta tendência que nos arrasta
para o mal e nos torna fracos na tentação. Entretanto, se teu privilégio é
único e se teu lugar é muito acima do nosso, ele te foi concedido para nossa
alegria. Se Deus se regozija ao te contemplar, nós também nos alegramos por te
ver tão pura. Ficamos felizes por erguer nosso olhar acima das misérias deste
mundo e contemplar tua alma Imaculada.
Somos famintos de ideal; por isso, é uma felicidade
termos a ti diante dos olhos, como ideal vivo. A graça corre perigo de ser uma
entidade abstrata para nossas inteligências, mas sua realidade concreta nos é
revelada em ti. Por ti, a graça divina se nos torna visível, e começamos a
entrever sua beleza. Tu nos mostras o que é a santidade, em seu esplendor e
encanto. E o que ainda mais nos alegra, é encontrar-se tão grande perfeição na
mulher que nos foi dada por mãe. O filho gosta de pensar que sua mãe é a melhor
de todas; atribui-lhe espontaneamente todas as qualidades e perfeições. Para
ele, sua mãe é o que há de mais belo no mundo. E como todos os homens se
tornaram teus filhos, ó Maria, deleitam-se em te reconhecer como a mais
perfeita mulher. Não poderiam imaginar-te mais bela do que és. Contemplando-te,
não se decepcionam. És mãe sem falha alguma, e sempre ultrapassa a imagem ideal
que podemos fazer de ti. A plenitude de graça te colocar acima de nossa
capacidade de julgar.
Já que és nossa mãe, tua perfeição única nos pertence. Ao
criar-te perfeita, Deus te elevou a uma grandeza incomparável. Não estás,
porém, longe de nós, pois todas as riquezas da mãe são adquiridas para seus
filhos. Só tens um desejo: beneficiar-nos com a plenitude de graça que te foi dada.
A mãe é também honrada quando seus filhos se parecem com
ela e refletem suas qualidades. Embora não nos possamos assemelhar
perfeitamente a ti, desejamos, pelo menos, aproximar-nos o mais possível da tua
perfeição, espelhando o melhor possível teus traços. Faze, pois, refletir-se em
nós o esplendor que Deus esconde em tua alma! Faze que, á força de te
contemplarmos e admirarmos, nos impregnemos de tua pureza! Tu que és a mais
dina das mães, torna-nos menos indignos de ser teus filhos!
Comunica-nos principalmente o cuidado que tiveste durante
toda a existência de te conservares Imaculada, de nunca permitir um só
pensamento, um afeto, um ato que pudesse ofender a Deus. Procuraste agradar ao
Senhor, até nas mínimas coisas. Detestaste o pecado, porque é abominável aos
olhos do Onipotente. Nunca permitiste que se ofuscasse a beleza que o Criador
pusera em ti. Essa beleza permaneceu intacta desde a tua conceição até a morte.
Quando o anjo te saudou “cheia de graça”, eras perfeita como quando saíste das
mãos de Deus e assim te conservaste até o último suspiro.
Inspira-nos semelhante horror ao pecado. Que o desejo de
agradar a Deus em todas as coisas nos mantenha afastados do mal! Não permitas
que consintamos em ofender a Deus. Conserva nossos pensamentos, nossos afetos, nossos
atos nas pegadas de tua pureza Imaculada. Fazendo-nos conhecer o encanto da
graça divina, mostras-nos também a deformidade do mal. Coloca-nos, pois, ao
abrigo dessa deformidade, fixando sempre mais nossos olhos em tua pessoa.
Tu que foste feita Santíssima para nós, Cheia de Graça
para teus filhos, ajuda-nos a cumular nossa alma o mais possível com a graça de
Deus.
Intenções para a recitação do Terço
Virgem Imaculada,
-inspira-nos horror ao pecado e a tudo o que ofende a
Deus;
-nas tentações, conserva-nos fiéis aos mandamentos
divinos;
-àqueles que vivem no pecado, obtém a coragem de se
voltarem para Deus;
-faze que, por uma conduta irrepreensível, ajudemos os
outros a permanecer no caminho reto;
-coloca sob nossos olhos o ideal de tua admirável pureza,
para que nos apliquemos a imitá-la!
Invocação
Nossa Senhora, que evitaste tudo o que poderia desagradar
a Deus, fortalece nossa resolução de fugir, a todo preço, do pecado!
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