Padre Júlio Maria, Princípios da vida de intimidade com Maria
Santíssima
Já que a Santíssima Virgem deve ser unida ao Salvador, na
hora da salvação do mundo, qual é exatamente o seu papel nesta obra?
Ela é, como o proclamam todos os Santos, a tesoureira e a
distribuidora de todas as graças, isto é, que antes de distribuir ao gênero humano
os frutos da redenção, Deus os derrama todos sobre Maria.
Redempturus humanum
genus, diz muito bem S. Bernardo, proetium
universum contulit in Mariam... Totius boni plenitudinem posuit in Maria.
Todos os dons sobrenaturais distribuídos com profusão ao
comum das criaturas, diz Mons. Gay, (1) antecipadamente Deus já os tinha
acumulado nela conforme lhe convinham...
Além disso, ele derrama incontinenti sobre esta criatura
tão perfeita, o oceano todo inteiro dos seus dons sobrenaturais.
Exceto a graça da união hypostática, reservada á
Humanidade santa e da qual Maria não recebe sinão reflexos, ela possue todas as
outras graças, Deus lhe concede tudo...
Virtudes theologais, morais, intelectuais, dons do
Espírito Santo, frutos que ele produz na alma dos justos, felicidade que ele
criou para eles, formas múltiplas, matizes variados, energias diversas de união
com Jesus, poderes e operações diferentes que disso resultam, graças que
constituem os estados, graças fundando ou acompanhando as missões, nada lhe
falta, pois ela possui tudo em abundancia.
Maria SS. Possui tudo isso em uma medida que só ela é
capaz e que foi desde o principio a plenitude desta capacidade.
Finalmente basta-nos dizer que Jesus pertence á Maria.
Ora, Jesus é a plenitude da graça personificada.
Inumeráveis são os testemunhos dos Santos Padres e
Doutores sobre este ponto importante.
O Beato de Monfort cita a este respeito um certo número e
resume as principais idéias conforme o que segue: “Deus Pai, fez um conjunto de
todas as águas ao qual chamou mar e fez uma agregação de suas graças a que deu
o nome de Maria.”
“Este grande Deus possui um tesouro ou um armazém
imensamente rico, onde Ele acumula tudo que há de belo, de resplandecente, raro
e precioso, até seu próprio Filho; e este tesouro imenso não é outro senão
Maria, que os santos chamam tesouro do Senhor, de cuja plenitude os homens são
enriquecidos.
“Deus Filho comunicou á sua Mãe tudo o que ele adquiriu
por sua vida e morte, seus méritos infinitos e suas virtudes admiráveis e fe-la
tesoureira de tudo que seu Pai lhe deu como herança.
É por ela que ele aplica seus méritos aos seus membros,
que ele comunica suas virtudes e distribui suas graças; é seu canal
mysteriosos, é seu aqueduto, por onde ele faz passar abundante e docemente as
suas misericórdias.
“Deus Espírito Santo comunicou á Maria, suas fiel Esposa,
seus dons inefáveis e escolheu-a para a dispensadora de tudo o que Ele possui”.
Acrescentemos ainda a estes testemunhos as belas palavras
do Doutor Angélico: “Maria, diz ele, foi cheia de graça para as distribuir
sobre todos os homens. É muito para um santo ter uma graça tão abundante pela
qual ele possa salvar um grande número de almas, mas possuir a graça suficiente
para salvar todos os homens, seria o maior grau, e este grau se encontra no Christo
e em Maria”. (2)
No Christo como fonte.
Em Maria como canal, diz S. Bernardino de Senna: - Plenitudo gratiae fuit in Christo sicut in
Capite influente, in Maria vero, sicut in collo transfundente. (3)
Porque esta plenitude em Maria?
Por causa de sua dignidade de Mãe de Deus e de Mãe dos
homens. Como Mãe de Deus ela recebe para si mesma. Como Mãe dos homens ela
recebe para dar.
“O fim e a função da maternidade, diz o P. Lhoumeau, (4)
são de dar primeiramente a vida, e em seguida o que é necessário para
sustenta-la e conserva-la.
Mas como ela é Mãe de todos os homens, é para todos
igualmente que ela obtém e distribui a graça”.
Em Maria, por consequência de sua união íntima com Jesus
Christo, esta união é de certo modo uma graça capital, pois ela possui a excelência
a plenitude que convém á Mãe e medianeira universal de todos os homens.
Mais uma última observação, e esta é a conclusão deste
capítulo.
A Santíssima Virgem não é somente a tesoureira e a
distribuidora das graças divinas porém todas as graças que ela distribui se
encontram nela... ela as possui todas e é de sua superabundância que nós
recebemos. Plena sibi, superplena
nobis...
Ela distribui aquilo de que está repleto.
Com efeito, a graça, como o diremos nos capítulos
seguintes, não é uma substancia que possa existir em si mesma, é um acidente
que necessariamente deve ter um suporte.
A graça não existe em si mesma, e não pode existir senão
em uma alma, deve pertencer a esta alma, do mesmo modo que a cor, por exemplo,
pertence a um objeto que é dela revestido.
Comprehendeis para onde estas considerações nos conduzem:
Todas as graças dadas aos homens, antes de lhes serem dadas ornaram a alma de
Maria, estiveram em Maria, fizeram parte de Maria... E é desta superabundância que
todos nós recebemos – De cujus
plenitudine nos omnes accepimus.
Ó Virgem! Ó Mãe! Mostrai-vos aos nossos olhos, em toda vossa
glória e em todo o poder de vossa graça, pois nós não nos conhecemos bastante. É
verdade que vós sois muito elevada e que nós rastejamos tão baixo. Mas vós sois
nossa Mãe e não deve o filho amar sua mãe e, por conseguinte, conhece-la?...
(1)
Mgr.
Gay: “Conf. Aux meres chrétiennes”.
(2)
Comment.
De “Ave Maria”.
(3)
Serm.
P. 2. Conclus 61 art. 2 Cap. X.
(4)
La
Vie Spirituelle Ch. II.
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