Ecce ancilla Domini: fiat mihi secundum verbum tuum – “Eis aqui a escrava do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra” (Luc. 1, 38).
Sumário. A obediência de Maria foi incomparavelmente mais perfeita que a dos outros santos; porque, imune de todo labéo de culpa, ela era como que uma roda que pronta se movia a cada inspiração divina. Pelo mérito desta virtude Maria remediou o dano que causou Eva com sua desobediência. E tu como é que obedeces a teus superiores? Como é que observas as leis de Deus e da Igreja e os deveres próprios do teu estado? Lembra-te de que a virtude de obediência faz entrar os bem-aventurados na glória.
I. Pelo afeto que Maria consagrava à virtude de obediência, não quis, quando São Gabriel lhe veio anunciar a maternidade divina, chamar-se com outro nome senão com o de escrava: Eis aqui a escrava do Senhor. Sim, diz Santo Tomás de Villanova, porque esta fiel escrava, nem com suas obras nem com o pensamento contradisse jamais ao Senhor; mas, despida de toda a vontade própria, viveu sempre e em tudo obediente à divina vontade.
Observa São Bernardino de Sena que a obediência de Maria foi muito mais perfeita que a dos outros santos, porque todos os homens, por causa da inclinação ao mal pelo pecado original, sentem dificuldade em fazer o bem. Maria, ao contrário, imune, como era, de todo o labéo de culpa, foi como que uma roda que prontamente se movia a cada inspiração divina e outra coisa não fazia senão observar e executar o que agradava a Deus. – Dela é que foi dito: Anima mea liquefacta est, ut dilectus meus locutus est (1) – “A minha alma se derreteu, assim que meu amado falou”; porque, na explicação de Ricardo, a alma da Virgem era como que um metal derretido, disposta a tomar todas as formas que Deus queria.
Quanto era pronta para obedecer, mostrou-o claramente Maria quando, para agradar a Deus, quis obedecer também ao imperador romano, fazendo a viagem a Belém, em tempo de inverno, grávida e tão pobre que se viu obrigada a dar à luz numa gruta. – Foi igualmente pronta quando São José a avisou, que se pusesse a caminho na mesma noite, para viagem mais longa e perigosa ao Egito.
Mas, sobretudo, demonstrou a sua heróica obediência quando, para obedecer à divina vontade, ofereceu seu Filho à morte, com tão grande constância, que, como disse Santo Ildefonso, estaria pronta a crucificar o Filho se faltassem os algozes. – pelo que São Beda, o Venerável, escreveu que Maria foi mais feliz pela sua obediência à vontade divina do que por ter sido feita Mãe do mesmo Deus. E Santo Agostinho conclui dizendo que a divina Mãe com sua obediência remediou o dano que fez Eva com a sua desobediência.
II. Muito agradam a Maria aqueles que são amantes da obediência, e ela mesma repreendeu certo dia um religioso que, tocando-se o sino para certo exercício da comunidade, se demorou para terminar certas devoções privadas. – Falando a Santíssima Virgem com Santa Brígida a respeito da segurança que há em obedecer ao pai espiritual, lhe disse que é a obediência que faz entrar os bem-aventurados na glória. Acrescentou que, pelo merecimento da sua obediência, obteve do Senhor que todos os pecadores que arrependidos a ela recorrerem, obtenham perdão.
Se, pois, queres agradar a Maria Santíssima e assegurar a salvação da tua alma, faze hoje o firme propósito de imitar sempre a sua obediência e de cumprir exatamente todos os deveres do teu estado. – Entretanto, pede a seu Filho perdão das culpas que no passado cometeste contra tão bela virtude.
Ah meu Jesus! Por minha salvação fostes obediente até à morte e até à morte de cruz, e eu, ingrato, para não me privar de alguma miserável satisfação, tantas vezes Vos desrespeitei e Vos desobedeci. Meu Senhor, tende paciência comigo; não me abandoneis como merecia. Arrependo-me de todos os desgostos que Vos dei e quisera morrer de dor. Ouço vossa divina voz que me convida a vosso amor; não quero mais resistir. Eis-me aqui, entrego-me a Vós; não recuseis aceitar-me.
Dizei-me o que tenho de fazer para Vos agradar; estou pronto para tudo. (Renovo meus votos de Pobreza, de Castidade e de Obediência.) Prometo que de hoje em diante nunca mais resistirei às ordens de meus superiores. Amo-Vos, † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas, e porque Vos amo, quero fazer tudo para Vos agradar. Dai-me o vosso auxílio para executar esta resolução. – E Vós, minha Rainha e Mãe Maria, rogai a Jesus por mim, e pelo merecimento da vossa obediência, obtende-me a graça de obedecer a sua santa vontade e às ordens do meu Pai espiritual. (*I 268.)
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1. Cant. 5, 6.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 230-232.)
Fonte: São Pio V.
I. Pelo afeto que Maria consagrava à virtude de obediência, não quis, quando São Gabriel lhe veio anunciar a maternidade divina, chamar-se com outro nome senão com o de escrava: Eis aqui a escrava do Senhor. Sim, diz Santo Tomás de Villanova, porque esta fiel escrava, nem com suas obras nem com o pensamento contradisse jamais ao Senhor; mas, despida de toda a vontade própria, viveu sempre e em tudo obediente à divina vontade.
Observa São Bernardino de Sena que a obediência de Maria foi muito mais perfeita que a dos outros santos, porque todos os homens, por causa da inclinação ao mal pelo pecado original, sentem dificuldade em fazer o bem. Maria, ao contrário, imune, como era, de todo o labéo de culpa, foi como que uma roda que prontamente se movia a cada inspiração divina e outra coisa não fazia senão observar e executar o que agradava a Deus. – Dela é que foi dito: Anima mea liquefacta est, ut dilectus meus locutus est (1) – “A minha alma se derreteu, assim que meu amado falou”; porque, na explicação de Ricardo, a alma da Virgem era como que um metal derretido, disposta a tomar todas as formas que Deus queria.
Quanto era pronta para obedecer, mostrou-o claramente Maria quando, para agradar a Deus, quis obedecer também ao imperador romano, fazendo a viagem a Belém, em tempo de inverno, grávida e tão pobre que se viu obrigada a dar à luz numa gruta. – Foi igualmente pronta quando São José a avisou, que se pusesse a caminho na mesma noite, para viagem mais longa e perigosa ao Egito.
Mas, sobretudo, demonstrou a sua heróica obediência quando, para obedecer à divina vontade, ofereceu seu Filho à morte, com tão grande constância, que, como disse Santo Ildefonso, estaria pronta a crucificar o Filho se faltassem os algozes. – pelo que São Beda, o Venerável, escreveu que Maria foi mais feliz pela sua obediência à vontade divina do que por ter sido feita Mãe do mesmo Deus. E Santo Agostinho conclui dizendo que a divina Mãe com sua obediência remediou o dano que fez Eva com a sua desobediência.
II. Muito agradam a Maria aqueles que são amantes da obediência, e ela mesma repreendeu certo dia um religioso que, tocando-se o sino para certo exercício da comunidade, se demorou para terminar certas devoções privadas. – Falando a Santíssima Virgem com Santa Brígida a respeito da segurança que há em obedecer ao pai espiritual, lhe disse que é a obediência que faz entrar os bem-aventurados na glória. Acrescentou que, pelo merecimento da sua obediência, obteve do Senhor que todos os pecadores que arrependidos a ela recorrerem, obtenham perdão.
Se, pois, queres agradar a Maria Santíssima e assegurar a salvação da tua alma, faze hoje o firme propósito de imitar sempre a sua obediência e de cumprir exatamente todos os deveres do teu estado. – Entretanto, pede a seu Filho perdão das culpas que no passado cometeste contra tão bela virtude.
Ah meu Jesus! Por minha salvação fostes obediente até à morte e até à morte de cruz, e eu, ingrato, para não me privar de alguma miserável satisfação, tantas vezes Vos desrespeitei e Vos desobedeci. Meu Senhor, tende paciência comigo; não me abandoneis como merecia. Arrependo-me de todos os desgostos que Vos dei e quisera morrer de dor. Ouço vossa divina voz que me convida a vosso amor; não quero mais resistir. Eis-me aqui, entrego-me a Vós; não recuseis aceitar-me.
Dizei-me o que tenho de fazer para Vos agradar; estou pronto para tudo. (Renovo meus votos de Pobreza, de Castidade e de Obediência.) Prometo que de hoje em diante nunca mais resistirei às ordens de meus superiores. Amo-Vos, † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas, e porque Vos amo, quero fazer tudo para Vos agradar. Dai-me o vosso auxílio para executar esta resolução. – E Vós, minha Rainha e Mãe Maria, rogai a Jesus por mim, e pelo merecimento da vossa obediência, obtende-me a graça de obedecer a sua santa vontade e às ordens do meu Pai espiritual. (*I 268.)
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1. Cant. 5, 6.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 230-232.)
Fonte: São Pio V.
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