A mediação universal da Santíssima Virgem

D. Antonio de Castro Mayer,

Por Mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo Diocesano de Campos,

Ao Revmo. Clero Secular e Regular,
às Revdas. Religiosas,
à Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte Carmelo,
às Associações de piedade e apostolado
e aos fiéis em geral da Diocese de Campos,


Saudação, paz e bênçãos
em Nosso Senhor Jesus Cristo.


Zelosos cooperadores e amados filhos.
Já tivemos oportunidade de lamentar convosco o abominável sacrilégio cometido contra a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil. Assim que soubemos da nefanda profanação, que despedaçou a sagrada efígie, sob cuja invocação a materna solicitude de Maria Santíssima deu inúmeras demonstrações de seu misericordioso afeto por nossa gente, unimo-Nos aos vossos sentimentos, e juntos demos à Excelsa Mãe de Deus uma reparação pela ofensa inaudita ao seu Coração amoroso, e significamos nosso amor e nosso reconhecimento pelo desvelo e carinho com que Ela nos acompanha com seus favores 1.
Secundamos os desígnios da Providência – que tem contados até os fios de cabelo de nossa cabeça (Mt 10, 30) – quando buscamos perceber nas ocorrências da vida, qual a misericórdia de Deus a nosso respeito. Com muito maior razão, portanto, compete-nos refletir sobre esse fato insólito e altamente pecaminoso, que atinge a veneranda imagem da Padroeira de nossa terra.
É esta, zelosos cooperadores e amados filhos, ocasião oportuna, para afervorar-mos nossa devoção e nossa confiança em Maria Santíssima. Devoção que nos leve ao arrependimento sincero de nossos pecados, também eles responsáveis pela profanação havida, porquanto Deus Nosso Senhor não a teria permitido se nossas faltas não merecessem a advertência. Nossa confiança, porque, no Seu amor materno, a Virgem Mãe não despreza, antes recebe com benevolência e carinho, o coração contrito e humilhado.
Em comentários, após o ato sacrílego ocorrido em Aparecida, salientou-se que o importante é a Mãe de Deus, Maria Santíssima, e não propriamente a imagem. Frase cunhada para aliviar o luto que caiu pesado sobre a Igreja no Brasil. Está, no entanto, longe de dizer toda a verdade. A imagem, de fato, tem sua importância; e tão grande é ela, que justifica a existência do Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
Contudo, embora a frase não diga toda a verdade, diz o suficiente para nos alertar sobre o significado real do culto das imagens. Ou seja, que é um culto que se mede pela importância da Pessoa a quem a imagem representa. E, nesse caso, não poderíamos dizer, sem receio de errar, que a imagem quebrou-se, porque já estava em pedaços em nossos corações?2 Em outras palavras, não terá a Providência permitido a profanação da imagem, para sacudir o torpor de nossa devoção a Maria Santíssima?
Eis a razão desta Nossa Carta Pastoral. Esperamos, com a graça de Deus e a proteção da Virgem Mãe, contribuir para afervorar vossa confiança, vosso amor e devotamento à Imaculada Mãe de Deus e Mãe nossa amabilíssima, a fim de que vossa piedade filial se volte à Maria Santíssima com maior ternura e seriedade.
 
I
 
Zelosos cooperadores e amados filhos.
As peregrinações a Aparecida, que somam milhões de pessoas, são um testemunho vivo da Fé com que os fiéis crêem que Maria Santíssima é a Medianeira na distribuição das graças divinas. Vamos, pois, lembrar convosco os títulos que justificam essa nossa fé na Mediação Universal de Maria Santíssima, como canal que é de todas as graças que descem do Coração Sacratíssimo de Jesus sobre as almas, desde a vocação ao Batismo até os auxílios quotidianos de santificação, com que a bondade de Deus nos acompanha os passos da vida.
Maria Santíssima é Mãe de Deus. Dogma suavíssimo, contido explicitamente nos Santos Evangelhos e definido no Concilio de Éfeso, em 22 de junho de 431, contra os desvarios de Nestório, Patriarca de Constantinopla, com suma alegria do povo fiel, que prestou triunfal homenagem aos Padres Conciliares, acompanhando-os com tochas e aclamações de júbilo, no retorno da sede do Concílio às suas residências.
Maria Santíssima é Mãe de Deus porque, com sua carne virginal, colaborou com o Divino Espírito Santo na formação da natureza humana do Filho de Deus, o que levou Santo Agostinho à bela e arrojada expressão, "Caro Christi, caro Mariae" – "a Carne de Cristo é carne de Maria"3.
Assim, o Verbo de Deus veio ao mundo por Maria. Nasceu de Maria, é verdadeiro Filho de Maria, e como o Verbo é Deus (Jo 1, 1), Maria Santíssima é verdadeiramente Mãe de Deus. São Lucas, no trecho de seu Evangelho dedicado à infância do Senhor, relata a mensagem de Deus transmitida pelo Arcanjo São Gabriel à Virgem Santíssima. Nessa mensagem afirma-se, de maneira insofismável, a maternidade divina de Maria. Disse o Arcanjo: "Eis que conceberás em Teu seio e darás à luz um Filho, e Lhe imporás o nome de Jesus [...]. O Espírito Santo descerá sobre Ti, de maneira que o Santo que nascer de Ti será chamado filho de Deus" (Lc 1, 30-35). A expressão "será chamado" quer dizer: terá como nome próprio, indicador de sua natureza, pois é este, na Sagrada Escritura, o valor dos nomes impostos por Deus. 4
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O fato de Maria Santíssima ter sido escolhida para Mãe de Deus, e de sê-la realmente, por isso que é Mãe do Filho de Deus Humanado, tem conseqüencia irrecusável na economia da Graça, no plano da Redenção do gênero humano. Observa muito bem Santo Agostinho, que Deus poderia fazer-se homem, sem nascer de mulher, sem o concurso da Virgem Maria. Seria coisa facílima à Sua onipotente majestade. Como pôde nascer de mulher, sem concurso de varão, poderia igualmente dispensar a colaboração de Maria5. Se, pois, quis nascer de Maria, é porque Maria entrava no plano divino que determinou a Encarnação do Filho de Deus.
O Altíssimo, com efeito, nada faz sem motivo. É agente infinitamente sábio, para agir inconsideradamente. Toca-nos, se nos queremos integrar nos desígnios divinos, aceitar o pressuposto irrefragável de sua misericórdia, quando determinou que a Encarnação do Verbo se fizesse mediante o corpo humano formado no puríssimo seio de Maria Santíssima. E, como professamos no Credo, se Jesus se encarnou “por causa de nós homens e de nossa salvação”6,não nos é lícito excluir a colaboração de Maria Santíssima na obra com que a bondade divina remiu o gênero humano.
Aliás, o relacionamento da maternidade de Maria com o plano da restauração do gênero humano é anterior a Santo Agostinho. O Doutor da Graça não passa de um elo, precioso sem dúvida, da corrente formada pela Tradição eclesiástica que remonta à Igreja Apostólica.
Com efeito, já nos primeiros séculos, os Padres da Igreja compaginavam Maria Santíssima ao seu Divino Filho na missão restauradora do gênero humano.
São Paulo, na Epístola aos Romanos, declara que, como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim pela obediência de um só, todos se justificam (Rom. 5, 19). Os Padres da Igreja, como a completar o pensamento do Apóstolo, inserem na antítese entre Adão e Jesus Cristo, a oposição entre Eva e Maria. No século II, registram os anais eclesiásticos o testemunho de São Justino, mártir (+165), segundo o qual, a obediência de Maria anulou a desobediência de Eva “Eva – afirma o santo – virgem e sem mácula, concebendo a palavra da serpente, gerou a desobediência e a morte; mas Maria, aquiescendo à palavra do Anjo [...] gerou Aquele que derrotou a serpente e seus asseclas, anjos e homens” 7.De modo mais explícito, Santo Irineu (+202), Bispo de Lyon, no mesmo século II, atesta: “Como Eva, virgem, pela sua desobediência, tornou-se para si e para todo o gênero humano, causa de morte; assim, Maria, pela sua obediência tornou-se para Si e para todo o gênero humano, causa de salvação. [...] Assim, a cadeia da desobediência de Eva foi dissolvida pela obediência de Maria. [...] Como o gênero humano foi vinculado à morte por uma virgem; assim, pela Virgem Maria foi salvo” 8. Tertuliano, na África, desenvolve, em fins do século segundo e começo do terceiro, o mesmo pensamento: Eva acreditou na serpente: Maria em Gabriel; a falta cometida pela incredulidade de uma, a outra apagou com Sua fé”. 9.A medida que avançamos na História, continua no ensinamento eclesiástico a mesma concepção da economia da Graça que faz de Maria a restauradora da desgraça causada por Eva10.
A antítese, pois, entre Eva, causa de nossa ruína, e Maria, causa de nossa vida, é a maneira comum da Tradição destacar, junto aos fiéis, a missão reservada à Santíssima Virgem Maria na obra da Redenção do gênero humano11.
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Não há dúvida, amados filhos, que esta doutrina provém dos Apóstolos.
Com efeito, através de Santo Ireneu chegamos a São João Evangelista, uma vez que o Bispo de Lyon fora discípulo de São Policarpo, que, de sua parte, ouvira ao discípulo amado. Por outro lado, a maneira como se exprimem estes Santos Padres dos primeiros séculos é a de pessoas que transmitem uma verdade que faz parte da doutrina cristã, portanto, da doutrina revelada, legada por Jesus Cristo aos seus Apóstolos. Em outras palavras: ao fixarem a antítese entre Eva e Maria, estes Santos Padres não pretendem propor um pensamento próprio. Eles expõem simplesmente a verdade católica. Por isso mesmo, este ensino é geral. São Justino é da Palestina e viveu em Roma, Tertuliano é africano, Santo Irineu veio do Oriente e estabeleceu-se na França. São, igualmente, das várias regiões da Cristandade, os continuadores desta Tradição: Santo Efrem é da Síria; São Cirilo, de Jerusalém etc.
Não há, pois, dúvida: a participação de Maria Santíssima na obra da Redenção, como restauradora da desgraça causada por Eva, é doutrina revelada.
Eis que, na Idade Média, passou ela a figurar na Sagrada Liturgia, constituindo uma profissão de Fé da mesma Igreja. Até nos últimos breviários, aliás, lêem-se, no Hino de Laudes do Ofício Comum da Bem-aventurada Virgem Maria, os versos atribuídos a Venâncio Fortunato (+ 600) onde se professa "o que Eva, infeliz, nos arrebatou, Tu restitues com a santa prole" 12
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Não vos perturbe, pois, amados filhos, o fato de a frase da Epístola aos Romanos, por nós citada, nada dizer de Maria. Porquanto os textos da Sagrada Escritura devem ser sempre entendidos em harmonia com os outros dados da Revelação, uma vez que fazem parte de um todo coerente que é a Verdade confiada por Jesus Cristo aos seus Apóstolos: "Ide, ensinai tudo quanto vos mandei" (Mt 28, 19-20). Tomando-os isoladamente, e dando-lhes um sentido exclusivo, que nem sempre têm, expomo-nos a entendê-los mal e a naufragarmos na Fé, como advertia São Pedro, aludindo explicitamente aos escritos de São Paulo. 13 Assim, não é porque certos textos destacam uma verdade de Fé, que excluem outras igualmente reveladas. Na Epístola aos Romanos, inculca o Apóstolo na mente dos fiéis, um ponto fundamental da economia da Graça, a saber, que somente o Sacrifício de Jesus Cristo, por seu valor infinito, foi capaz de satisfazer condignamente, atendendo a toda justiça, à majestade e santidade de Deus, lesadas pelos pecados dos homens. Em conseqüência, por isso que estabeleceu a Providência pedir uma reparação perfeita pelo pecado, nenhum ser criado, Anjo ou homem, pôde restaurar a amizade entre o Céu e a terra. Neste sentido, Jesus Cristo é o único Mediador, como afirma o Apóstolo na primeira Carta a Timóteo: "Há um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem" (1 Tm 2, 5), Mediação que beneficia a própria Virgem Mãe, como proclamou Pio IX ao definir o Dogma da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria14.
Não é, porém, este, amados filhos, o único aspecto da Redenção.
Com efeito, as graças merecidas por Jesus Cristo, para santificarem deveras os homens, precisam chegar às almas, informá-las, delas expulsando o pecado e tornando-as agradáveis a Deus, capazes de fazer atos sobrenaturais, meritórios da vida eterna. E esta aplicação da Graça às almas, merecida por Jesus Cristo, não se faz sem a intervenção de Maria.
Assim como é inteiramente certa a afirmação do Apóstolo – que pela obediência de um só todos se tornam justos, como pela desobediência de um só perdeu-se o gênero humano – assim é igualmente verdadeira a asserção de que por uma mulher, Maria, nos vem a Graça e a Vida, como por uma mulher, Eva, tivemos o pecado e a morte. Eis que Jesus Cristo e Maria, ambos, são causa de nossa salvação: Jesus Cristo, porque realiza a satisfação que aplaca a ira divina e merece a Graça para todo o mundo; Maria, porque recolhe esta Graça, fruto da satisfação de Jesus Cristo, e a aplica aos homens individualmente. E, como sem essa aplicação, na realidade, o homem não se salva, Maria é também causa da salvação do gênero humano. Como diz São Bernardo 15, Maria é o canal, o aqueduto, por onde nos chegam as torrentes de graças que brotam das sacrossantas chagas de Jesus Cristo. É normal, portanto, que fora desse canal não se possam os homens dessedentar com a água viva que jorra para a vida eterna.
E eis, amados filhos, a harmonia entre o Dogma contido na frase do Apóstolo, ao afirmar que há um só Mediador entre Deus e os homens, e a verdade, transmitida pela Tradição, que nos aponta a Maria Santíssima como Medianeira necessária, por vontade de Deus, na aplicação dos méritos de Jesus Cristo, uma vez que, segundo os desígnios do Altíssimo, é Sua intercessão que obtém para os homens as graças de salvação.
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Esta Mediação Universal de Maria Santíssima tem, como vimos, seu fundamento na cooperação que, segundo o misterioso beneplácito da munificência divina, Lhe coube na obra da Redenção, operada pelo seu Unigênito Filho, cooperação que Lhe conferiu a maternidade espiritual com relação a todos os homens.
Implícita em vários tópicos dos Santos Evangelhos – dentre os raros em que aparece a Virgem Mãe – a Tradição salienta especialmente dois que lhe favorecem a explanação desse Mistério que é a maternidade da Graça, suavíssima irradiação da Pessoa amabilíssima de Maria.
Como não poderia deixar de ser, chama a atenção dos Santos Padres a presença da Virgem Mãe ao pé da Cruz, no Monte Calvário. Padecendo ali as dores mais acerbas que possa uma mãe sofrer, assiste Maria, em pé, com pleno domínio de si, à cruel e atrocíssima Morte de seu Unigênito bem amado. Ali, numa inefável misericórdia, Ela se une ao sacrifício expiatório do Filho de Deus, e suas dores, seu martírio, nos geram para a vida da Graça.
"Na paixão de seu Unigênito – escreve Ruperto de Deutz, teólogo do começo do século XII (+ 1129) – gerou a Bem-aventurada Virgem a salvação de todos nós, de maneira que Ela é, de direito, Mãe de nós todos" 16. A interpretação de Ruperto não é singular. É da Idade Média, com efeito, uma seqüência cantada na festa da Compaixão da Bem-aventurada Virgem Maria, na qual se declara que cooperando com o Filho, sob a Cruz salutífera, Maria se tornou nossa Mãe 17. E a Liturgia, como sabeis, amados filhos, é um dos meios de que se serve a Igreja para professar a Fé Católica.
Mas não faltaram mestres consagrados na Igreja, para sublinhar a mesma persuasão de que Maria, pelas dores suportadas em Sua alma, ao lado de seu Filho no Calvário, se tornou a Mãe dos membros do Corpo Místico de Cristo. Eis o que diz Santo Alberto Magno (+1280): ao tempo da Paixão realizou-se a profecia de Simeão "pois a espada transpassou Sua alma [...] e ficou constituída [...] Mãe de todo o gênero humano"18. Santo Antonino, Arcebispo de Florença (+1459), sustenta que "também Maria nos gerou entre as maiores dores, compadecendo com o Filho" ao pé da Cruz 19. Com maior autoridade, os Papas endossam esta doutrina. Leão XIII ensina que "Maria é Mãe também de todos os cristãos, por havê-los gerado no Calvário, entre os supremos tormentos do Redentor" 20. São Pio X, por sua vez, afirma que a "comunhão de dores e angústias entre Mãe e Filho concedeu à Virgem o ser, junto do Filho Unigênito, a Medianeira poderosíssima e Advogada de todo o mundo" 21. As últimas palavras são tiradas da Bula "Ineffabilis Deus" de Pio IX.
Como conseqüência dessa maternidade, que à Virgem custou-lhe na alma dores muito mais atrozes do que as comuns dos partos, Jesus Cristo, do alto da Cruz, promulgou sua missão materna, confiando-Lhe todo o gênero humano e cada um dos homens, na pessoa de São João, o discípulo amado. Embora uma exegese excessivamente preocupada com o sentido literal menospreze o sentido espiritual desse passo do quarto Evangelho, em que o Senhor entrega a Maria o discípulo amado, não há dúvida de que a Tradição viu nele confirmada a missão singular de Maria na obra da Redenção, como Mãe de todos os homens na ordem da Graça.
De fato, já no século III, Orígenes sublinhava o sentido místico das palavras dirigidas por Jesus Cristo, do alto da Cruz, à sua Mãe, "Eis aí teu Filho" (Jo. 19, 26). "Com efeito, afirma o Doutor Alexandrino, o fiel perfeito não mais vive, eis que nele vive Cristo, e porque nele vive Cristo, por isso, dele é dito a Maria: Eis Teu filho, o Cristo" 22. Em outros termos, o que renasce para a vida da Graça, torna-se outro Cristo e, como tal, filho de Maria Santíssima. A interpretação de Orígenes, com o tempo fez-se comum. Ruperto assim continua o trecho que citamos: "Por isso, o que ali foi dito do discípulo amado, poderia dizer-se de qualquer outro que estivesse presente, porquanto Ela é Mãe de todos"23. Na Seqüência da festa da Compaixão de Maria, por nós já citada em outra estrofe, consigna-se esta interpretação do passo de São João: "A Mãe é dada ao discípulo com grande mistério; sob o nome de João, entende-se todo fiel24. Seria muito longo enumerar os teólogos, exegetas e doutores ascéticos que secundam a interpretação consignada na Liturgia pela Seqüência acima25. Baste-vos, amados filhos, a palavra autorizada de Leão XIII comentando o trecho a que nos referimos: "Na pessoa de João, segundo o pensamento constante da Igreja [quod perpetuo sensit Ecclesia], designou Cristo o gênero humano, principalmente aqueles que a Ele aderem pela Fé"26. Principalmente, diz Leão XIII, porquanto, como acentua Pio XI, "ao receber, no Calvário, os homens recomendados ao seu materno coração, Maria não somente anima e ama os que se beneficiaram da graça divina, como também aqueles que ignoram a Redenção"27.
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No Gólgota, Maria gerou-nos para a vida da Graça.
Jesus, no entanto, não esperou o fim de sua vida mortal, para fazer Maria nossa Mãe. Diz bem o Pe. Braun, O.P., no seu comentário ao tópico de São João que analisamos: "A doação de todos os homens, feita a Maria, no Calvário, deve considerar-se como uma consagração oficial à vista do futuro, de um fato já existente"28.
E realmente, a revelação da maternidade espiritual de Maria Santíssima está contida na doutrina da recapitulação, tão cara aos Padres da Igreja, especialmente no Oriente29. De acordo com esta doutrina, Adão, em certo sentido, encerrou em si a todo o gênero humano, por isso que dele teriam origem todos os homens. Estavam todos em Adão "em germe". O fato, pois, de ser Adão o pai de todo o gênero humano fez que ele englobasse a todos os homens na desgraça de seu pecado (Rm 5, 12). De modo análogo, Jesus Cristo, o novo Adão (1 Cor 15, 45), encerra em Si a todos os homens que, recebendo dEle a Graça santificante, são Sua descendência na ordem sobrenatural, da vida eterna. Sinteticamente, Santo Irineu afirma: "Como todos morremos no Adão corporal, assim somos vivificados no espiritual"30.
Como complemento natural do objeto da Revelação, que apresenta a Jesus Cristo como Cabeça da humanidade, encerrando em Si, em germe, a todos os homens, desenvolvem os Santos Padres a doutrina da maternidade Universal de Maria Santíssima com relação a todos os fiéis. Como Jesus é o novo Adão, Maria é a nova Eva, a nova Mãe de todos os homens, já agora na ordem sobrenatural.
A melhor explanação deste suavíssimo Mistério encontramos na Encíclica com que São Pio X preparou o povo fiel a uma digna comemoração do cinqüentenário da Bula "Ineffabilis Deus", que definiu o Dogma da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria. Leiamos, amados filhos, para nossa edificação as dulcíssimas palavras do último Papa canonizado: – "Não é Maria, Mãe de Deus?" – pergunta o Pontífice. E conclui: – "Portanto, é Mãe nossa também". E desenvolve a argumentação: "Pois, deve-se estabelecer o princípio de que Jesus, Verbo feito carne, é ao mesmo tempo Salvador do gênero humano. Em conseqüência, como Deus Homem, Ele tem um corpo qual os outros homens; como Redentor de nosso gênero, um corpo espiritual, ou, como sói dizer-se, místico, que outra coisa mais não é do que a comunidade dos cristãos unidos a Ele pela Fe". E cita São Pio X, em abono de sua doutrina, a palavra de São Paulo: "Embora muitos, somos um só corpo em Cristo" (Rm 12, 5). E continua: "A Virgem, pois, não concebeu o Filho de Deus só para que, dEla recebendo a natureza humana, se tornasse homem; mas, a fim de que Ele se tornasse, mediante esta natureza dEla recebida, o Salvador dos homens. O que explica as palavras dos Anjos aos pastores: "Hoje nasceu-vos o Salvador que é o Cristo Senhor" (Lc 2, 11). Por isso, no seio virginal de Maria, onde Jesus assumiu a carne mortal, lá mesmo, Ele se agregou um corpo espiritual, formado de todos os que deviam crer nEle. E pode dizer-se que Maria, trazendo a Jesus nas Suas entranhas, trazia também a todos aqueles cuja vida o Salvador continha. Todos, portanto, que, unidos a Cristo, somos, consoante as palavras do Apóstolo, "membros de Seu corpo, de Sua carne, de Seus ossos" (Ef 5, 30), devemos crer-nos nascidos do seio da Virgem, de onde um dia saímos, qual um corpo unido à cabeça. E por isso somos chamados, num sentido espiritual e místico, filhos de Maria, e Ela é, por sua vez, nossa Mãe comum. Mãe espiritual, contudo verdadeira Mãe dos membros de Jesus Cristo quais somos nós" 31.
São Pio X destaca, pois, como vistes, amados filhos, que Maria Santíssima não é Mãe do filho de Deus que será o Redentor do mundo. Ela é, diretamente, a Mãe do Redentor. Ela colaborou com o Divino Espírito Santo para a formação do próprio Redentor. Quem durante nove meses se manteve no Seu seio puríssimo, e sob Seu influxo vital foi se formando Homem, era o Filho de Deus, como Redentor.
Ora, amados filhos, como lembramos acima, Jesus Cristo nos redime, mediante nossa incorporação à sua Pessoa. Pela Graça, que Ele nos mereceu, nós nos unimos a Ele, formando com Ele um só Corpo Místico. A Graça é como o sangue vivificante que, de Jesus, desce e penetra em nossa alma, dando-nos a vida sobrenatural, e unindo-nos a Ele que é a Cabeça do organismo do qual nós somos os membros. E é através desta nossa incorporação a Jesus Cristo que somos salvos. Eis que, conclui legitimamente São Pio X, no momento em que Maria se torna Mãe de Deus, no mesmo instante, torna-se Mãe dos homens, como sinteticamente o disse no enunciado de sua tese: – "Não é Maria, Mãe de Deus? – Portanto, é Mãe nossa também".
Como corolário suavíssimo de ordem prática, deduzimos que é sob o influxo materno de Maria Santíssima que os homens renascem para a vida da Graça. Com que alegria pensamos que somos realmente filhos de Maria! Ela, como Mãe de Deus, nos gerou a nós também e para a vida eterna! "Nossa alma glorifica o Senhor" (Lc 1, 46).
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Amados filhos,
A Maternidade espiritual de Maria Santíssima, como dissemos, fundamenta sua Mediação Universal.
Com efeito, os homens se salvam – acabamos de ver – por isso que se enxertam (a expressão é de São Paulo – Rm 11, 17) em Nosso Senhor Jesus Cristo, mediante a Graça santificante que os faz filhos de Deus, precisamente porque os incorpora ao Filho Unigênito do Padre Eterno.
A conclusão lógica de todo este raciocínio é que se salvam somente aqueles que se recolhem ao seio onde se forma esse Corpo Místico de Cristo. Em outras palavras, nossa incorporação a Jesus Cristo, na unidade de seu Corpo Místico, não se faz sem a intervenção de Maria Santíssima. Aliás, a comparação tomada ao organismo humano, sublinha energicamente essa verdade. Com efeito, é impossível imaginar-se uma mulher que gere apenas a cabeça de seu filho. Necessariamente ela dará à luz o corpo inteiro da prole, cabeça e membros. Como se poderia, então, pensar que Maria, Mãe do Redentor, gerasse apenas a cabeça do Corpo Místico, quando o Redentor é constituído do Cristo inteiro, cabeça e membros, Jesus Cristo e os homens unidos a Ele pela Graça?32. Ao contemplar seu Unigênito, apieda-se o Padre Eterno do mundo, porque Seu olhar amoroso atinge a todos os homens que, na unidade do Verbo Encarnado, constituem seu Corpo Místico.
Compreende-se, amados filhos, que a concepção de Maria Santíssima como canal indispensável por onde descem as graças da Cabeça aos membros do Corpo Místico, esteja na profissão de Fé Católica desde os primeiros séculos. Esta verdade está contida na antítese entre Eva, mãe dos pecadores, e Maria, Mãe dos viventes em Cristo. Como a colaboração de Eva, tronco que é de onde procede todo o gênero humano, é condição para que nasçam os homens com o pecado original, assim a intervenção de Maria é indispensável para o nascimento na ordem da Graça.
II
Há, no entanto, também afirmações diretas de que só por Maria recebem os homens a graça de Deus. Assim, por exemplo, Santo Efrém (+373), a cítara do Espírito Santo, o melífluo cantor da Virgem, dirige-se à Mãe de Deus com estas palavras: “Por Ti, ó única Imaculatíssima, toda honra e santidade, desde o primeiro Adão e até a consumação dos séculos, derivou-se, deriva-se e derivar-se-á aos Apóstolos, aos Profetas, aos justos e humil­des de coração” 33. Santo Efrém considera, imediatamente, a origem do Salvador, que nasceu de Maria. Suas palavras, no entanto, só se entendem mediante a associação da Virgem Santíssima à obra de seu Unigênito Filho, que a faz medianeira de todas as graças a toda classe de pessoas, desde os justos do Velho Testamento. São Germano, Patriarca de Constantinopla (+733) é mais incisivo: "Ninguém [...] a não ser por Ti, ó Santíssima, consegue a salvação. Ninguém a não ser por Ti, ó Imaculatíssima, liberta-se do mal. Ninguém, a não ser por Ti, ó Castíssima, obtém indulgência. A ninguém, a não ser por Ti, ó Honorabilissima, se concede misericordiosamente o dom da Graça"34. Na Idade Média, permanece, e mesmo se intensifica o fervor mariano, a certeza de que é por Maria que nos vem a vida eterna. Santo Anselmo (+1109), Arcebispo de Cantuária, assim se exprime: "Sem Ti, não há piedade, nem bondade, porque és a Mãe da virtude e de todos os bens"35. E São Bernardo (+153), o suavíssimo Doutor da Virgem, tem uma frase taxativa de que se servirão com freqüência os Papas, para caracterizarem a missão de Maria Santíssima na economia da Graça: "Nada quis Deus que possuíssemos que não passasse pelas mãos de Maria"36.
Dos grandes teólogos do século XIII, Santo Tomás de Aquino, no comentário à Saudação Angélica, compara a redundância da Graça de Maria sobre os homens com a do próprio Jesus Cristo. Esta comparação, como se vê, envolve a afirmação da universalidade da Mediação de Maria Santíssima, na distribuição das graças. São Boaventura, por sua vez, tem esta afir­mação taxativa: "Ninguém pode entrar no Céu a não ser que passe por Maria que é a porta"37.
E, resumindo a profissão de fé do povo cristão, cantou Dante (+1321), na sua grandiosa Divina Comédia: "Virgem Mãe [...] Há tanta grandeza em Ti, tal pujança que quer sem asas voe seu anelo quem graças aspira em Ti sem confiança."38
Santo Antônio de Florença, no século XV, retoma o pensamento de Alighieri, na sua Summa Theol. P.VI, tit.15, c.22, §9: "Qui petit sine Ipsa duce, sine alis tentat volare" – "Quem pede, sem tê-La como guia, tenta voar sem asas".
Nos nossos tempos, Pio XII, em Carta ao Card. Maglione, com data de 15 de abril de 1940, encarecendo junto do Secretário de Estado a necessidade de orações pela Paz, retoma a mesma figura de Dante para sublinhar a eficácia da intercessão de Maria Santíssima: "Tanta Beata Virgo apud Deum pollet gratia, tanta apud Unigenitum suum potentia fruitur, ut quisquis, egens opis, non ad eam recurrat, nullo is alarum remigio, ut Aligherius concinit, volare conelur" – "É tão grande a valia da Bem-aventurada Virgem junto a Deus, tanto Seu poder junto a seu Filho, que um indigente que a Ela não recorre, empenha-se, como cantou Alighieri, por voar sem o remo das asas"39. Não faltam também, amados filhos, documentos do Magistério Pontifício, caucionando a fé arraigada no coração do povo cristão. Bento XIV (1740-1758), na famosa bula áurea "Gloriosæ Dominæ" proclama a Bem-aventurada Virgem Maria o alveo do rio por onde correm todas as graças e dons para o coração dos míseros mortais 40. Pio VII (1800-1823) declara "Maria nossa Mãe amantíssima e Dispensadora de todas as graças"41. Pio IX (1846-1878), repetindo a frase de São Bernardo, atesta ser o desejo de Deus que "tudo tivéssemos por Maria"42. Leão XIII inculca esta verdade nas suas muitas encíclicas sobre o Rosário do mês de outubro. Por exemplo, na "Octobri mense" retoma a conhecida frase de São Bernardo, "por vontade divina, nada, a não ser por Maria, nos é concedido"43. São Pio X, na esplêndida encíclica "Ad diem illum", já por nós analisada, chama a Maria Santíssima, "Dispensadora de todas as graças que Jesus providenciou com seu Sangue preciosíssimo"44. Bento XV, em Carta Apostólica à Confraria da Boa Morte, afirma: "As graças que o gênero humano recebe do tesouro da Revelação são distribuídas pessoalmente pela Virgem Dolorosa"45. Pio XI ensina que o único Mediador entre Deus e os homens quis associar sua Mãe como Advogada dos pecadores e Ministra e Mediadora da Graça46. Pio XII, em muitas oportunidades, deu aos fiéis o exemplo de confiança inabalável na proteção da Virgem Mãe. Na encíclica sobre o Corpo Místico47 destaca o lugar que tem Maria na economia da Graça. O mesmo faz na encíclica sobre a Sagrada Liturgia48, onde subscreve a frase de São Bernardo que Deus "quis que tudo tivéssemos por Maria". João XXIII (1959-1963) utiliza-se dessa mesma frase quando exorta os congregados marianos à confiança e devoção à Maria Santíssima49.
Paulo VI declara que a missão exercida no Céu por Maria Santíssima, na geração e aumento da vida divina em cada um dos homens, é, por livre vontade de Deus sapientíssimo, parte expletiva do mistério da salvação humana, e por isso, devem os fiéis aceitá-la como verdade de fé50.
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Enfim, para que não faltasse a confirmação da lex orandi, a Sagrada Liturgia se compraz em atribuir a Maria Santíssima trechos de Isaías, dos Provérbios e do Eclesiástico51 que literalmente se aplicam à Sabedoria Increada, ao Verbo de Deus, ratificando assim a convicção dos fiéis de que Maria está estreitamente unida ao Filho de Deus, de maneira a constituir com Ele o traço de união entre a misericórdia divina e as necessidades dos homens.
Não somente na parte catequética da Santa Missa, inculca a Sagrada Liturgia a união íntima entre Maria Santíssima e seu Divino Filho no Mistério de nossa Redenção. Esta verdade é afirmada também em outros lugares das Missas de Nossa Senhora, bem como nos ofícios correspondentes.
Assim, na oração após a Comunhão da Missa comemorativa da outorga da Medalha Milagrosa a Santa Catarina Labouré52, professa-se: "Ó Senhor Deus Onipotente que quiseste que tivéssemos TUDO pela Imaculada Progenitora de teu Filho, concedei-nos, etc." Na sétima lição do Ofício de Nossa Senhora Auxiliadora, diz-se que Deus "pôs em Maria a plenitude de todo bem, de maneira que saibamos que dEla redunda o que há em nós de esperança, de graça, de salvação"53.
Esta oficial profissão de Fé da Santa Igreja, no seu culto público, obteve uma ratificação marcante com a aprovação, por parte de Bento XV, em 1921, da Missa e Ofício da Bem-aventurada Virgem Maria Medianeira de todas as graças54. No invitatório desse ofício faz-se o seguinte convite: "A Cristo Redentor que quis que todos os bens tivéssemos por Maria, vinde, adoremos". No hino de Matinas, canta-se: "Todos os bens que nos mereceu o Redentor, reparte-os sua Mãe Maria".55. E na oração da Missa, que todos os favores pedidos ao Senhor, sejam alcançados por meio de Maria56
III
Zelosos cooperadores e amados filhos.
Repassamos convosco as fontes da Revelação que nos explanam a missão confiada por Deus Nosso Senhor a Maria Santíssima, na obra da Redenção do gênero humano e na economia da Graça. Vimos que, pelos altos desígnios de Deus, Maria foi escolhida para cooperar, com Sua carne e Seu sangue, na constituição da natureza humana do Verbo Divino, quando, pelos inefáveis mistérios de Seu amor, Deus resolveu pedir uma reparação justa, proporcionada à enormidade da malícia inerente ao pecado do homem, como violação que é dos direitos divinos.
Semelhante cooperação física, na feitura da natureza humana de Jesus Cristo, implica, normal e logicamente, uma participação na obra colimada pelo Filho de Deus ao encarnar-se, ou seja, na Redenção do gênero humano. E a razão é porque Deus, na Sua onipotência, poderia dispensar o concurso de Maria na Encarnação do Verbo. Se não o fez, é porque na Sua insoldável sabedoria designou a Maria Santíssima uma parte importante na própria restauração do gênero humano.
Argumenta com razão Bossuet que Deus, tendo querido dar-nos Jesus Cristo por Maria, esta ordenação Ele não a muda mais. A vontade de Deus é sem arrependimento. O caminho par irmos a Jesus, o meio de recebê-Lo, será sempre Maria.57 Análogo pensamento ocorre em Leão XIII: "Tendo prestado Seu ministério na Redenção dos homens, Ela exerce paralelamente o mesmo ministério na distribuição da Graça que daquela Redenção perpetuamente decorre, investida, para esse fim, de um poder quase imenso"58.
De onde o papel assumido por Eva na desobediência original, que implicou na desgraça de todos os homens, oferece aos Santos Padres o meio de inculcar a parte que teve Maria na restauração da humanidade. Como Eva foi a causa da morte espiritual de todos os homens, Maria é a causa da vida da Graça para todos os homens. Como Eva é a mãe de todos os viventes, enquanto a todos transmite a vida natural, Maria é a Mãe de todos os homens que, por Ela, recebem a vida sobrenatural.
Este pensamento suscita o aspecto suavíssimo de Maria como Mãe celeste, que vela pelos Seus filhos na terra, aos quais gerou para a vida espiritual, ao participar, no Calvário, das dores acerbíssimas com que Jesus remiu o mundo.
Aprofundando mais o alcance da palavra do Arcanjo Gabriel a Maria, anunciando-Lhe que seria Mãe do Redentor, a Tradição precisa melhor a natureza da maternidade pela qual Maria é Mãe de todos os homens. É que estes fazem parte do Corpo Místico de Cristo, e, precisamente como membros desse Corpo Místico, são resgatados do cativeiro do demônio, e animados pela vida da Graça. Assim, Maria Santíssima, ao conceber no Seu seio puríssimo o Redentor, tornou-se, pelo mesmo fato, Mãe de todos os remidos pelo Sangue de Cristo, ou seja, de todos os membros do Corpo Místico do Salvador.
Concretamente, a ação materna de Maria com relação a todos os homens faz-se mediante a distribuição das graças merecidas pelo Sacrifício propiciatório do Filho de Deus, pois, "Deus quis que nada tivéssemos, a não ser por Maria". Citemos ainda uma vez São Bernardo, que resume nessa frase a amabilíssima e consoladora dádiva da bondade divina que é Maria, nossa Medianeira.
A mesma concepção da economia da Graça, na qual Maria ocupa uma posição chave, ensina São Luís Grignion de Montfort: "Deus Padre – diz ele – nos deu e dá o Filho por Ela [Maria] somente, só produz outros filhos por meio dEla e só por meio d'Ela nos comunica suas graças. Deus Filho foi formado, para todo o mundo, por Ela, e não é senão por Ela que é formado todos os dias, e gerado por Ela em união com o Espírito, e é Ela a única via pela qual nos comunica suas virtudes e Seus méritos. O Espírito Santo formou Jesus Cristo por meio dEla, e por meio dEla forma os membros de seu Corpo Místico, e só por Ela nos dispensa seus dons e favores" 59.
Precisamente nessa indispensável intervenção de Maria Santíssima, para a consecução dos favores do Céu, desde a primeira graça até a perseverança final, consiste sua Mediação Universal, que A faz Mãe que, continuamente, gera e alimenta a vida divina dos homens, e como tal Paulo VI declarou artigo de fé, e que ardentemente esperamos seja dogma solenemente definido, para glória de Deus, exaltação da Santa Igreja, honra de Maria Santíssima, alegria dos habitantes do Céu e consolo para os que ainda gememos neste vale de lágrimas.
IV
  
Concebida assim no seu verdadeiro sentido, amados filhos, a Mediação Universal de Maria, longe de entrar em colisão, harmoniza-se perfeitamente com o Dogma de um só Mediador necessário, que apresente ao Altíssimo a reparação pelos pecados dos homens. Pois, segundo os altos desígnios divinos, é nesta indispensável Mediação de Jesus Cristo, que adquire vigor toda a Mediação de Maria, porque é a Mediação de Jesus Cristo que A faz Santíssima, Imaculada, Mãe de Jesus Cristo, que concede a Maria todos os títulos que fundamentam sua missão de Medianeira de todas as graças.
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Por motivo análogo, a Mediação Universal de Maria não anula, amados filhos, a intercessão dos Santos e Anjos, todos eles também mediadores, amigos que são de Deus e benfeitores nossos. Suas preces são também valiosas, porém, não dispensam a intercessão de Maria. Com as da Mãe de Deus adquirem a eficácia de que sozinhas ficariam destituídas. Exprime esta verdade, de modo incisivo, o grande Doutor da Igreja, Santo Anselmo (+1109). Diz ele: "O mundo tem seus apóstolos, seus patriarcas, seus profetas, seus mártires, seus confessores e suas virgens: bons, excelentes auxiliares que eu desejo, súplice, invocar. Mas, Vós, Senhora, Vós sois melhor e mais elevada do que eles todos [...]. O que eles podem convosco, Vós podeis sozinha e sem eles todos [...]. Se Vós Vos calais, ninguém suplicará, ninguém me auxiliará. Falai, e todos pedirão, todos virão em meu auxílio" 60.
Mesmo o pecador empedernido, que nem sequer cogita da Mediação de Maria, que jamais a Ela recorre, é beneficiado pela intercessão da Virgem Mãe, e pode vir à conversão, porquanto
"Ao mísero, que roga ao teu desvelo acode, e, as mais das vezes, por vontade livre, te praz sem súplica valê-lo"61.
Em outras palavras, mesmo quando o fiel não recorre a Maria, Ela o faz espontaneamente e lhe alcança a graça que ele, infeliz, não soube pedir. Dante nos transmite a persuasão do povo fiel. Santo Anselmo, o ensino da Hierarquia: "Sem Vossa assistência – suplica ele à Virgem – eu sou um nada que retorna ao nada. Socorrei-me, e não recuseis só a mim o que concedeis a todos mesmo sem ser rogada"62.
De um modo semelhante, amados filhos, não se opõe à Mediação Universal de Maria a eficácia sacramental na alma. Como sabeis, os Santos Sacramentos produzem na alma a Graça santificante, por si mesmos, ou na expressão clássica em Teologia, ex opere operato, isto é, pela virtude do próprio Jesus Cristo, de quem é vigário ou representante o ministro do Sacramento, servindo-se de um meio ao qual vinculou o Salvador essa causalidade na ordem sobrenatural.
É verdade que se poderia excogitar uma Mediação de Maria Santíssima incompatível com a Teologia Sacramental. Seria concebê-la como se Maria agisse diretamente na alma, nela criando, como causa eficiente, a Graça santificante. Mas, este conceito da Mediação Universal de Maria é falso. Maria é Medianeira de todas as graças porque nenhuma graça é aplicada ao homem sem que intervenha a Sua intercessão. A Tradição compendiou esta verdade numa expressão muito justa: "Maria – diz a piedade cristã – é a onipotência suplicante"63. Ela é Medianeira porque suplica, intercede, e Deus Nosso Senhor quer que esta intercessão, esta súplica esteja presente para conceder Sua graça, Seu favor. Repitamos a palavra de São Bernardo: "Deus quis que tudo obtivéssemos por Maria"64.
Como a graça sacramental está condicionada à recepção condigna do Sacremento, isto é, sem que a vontade lhe oponha o óbice da adesão do pecado, quem obtém de Deus, para um indivíduo, o benefício de receber o Sacramento, e de recebê-lo frutuosamente, pode e deve dizer-se que, com Sua intercessão, beneficiou o fiel com a graça sacramental. Em outras palavras, pode-se dizer que a própria graça sacramental está condicionada à Mediação de Maria, uma vez que Deus concede a graça da recepção frutuosa do Sacramento, como fruto da intercessão da Virgem Santíssima. Tanto mais que as boas disposições da alma, que contribuem para o pleno efeito da graça sacramental, são fruto de graças atuais condicionadas por Deus à intercessão de Maria.
Concluímos: nem a Mediação Universal de Maria Santíssima impede a causalidade própria dos Sacramentos; nem esta causalidade é dificuldade àquela Mediação Universal.
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Quanto aos auxílios divinos outorgados pelo Senhor, como fruto de petições que os fiéis fazem subir diretamente ao Augusto Trono de Sua misericórdia, em nada extenuam a Mediação Universal de Maria Santíssima.
Porquanto, na economia da Graça fixada pela inefável bondade de Deus, Jesus é inseparável de sua Mãe Santíssima. A ordem da Encarnação envolve Mãe e Filho. Assim o determinaram livremente os carinhosos e insondáveis desígnios da Providência. Não há a menor dúvida de que a intercessão de Jesus Cristo, aliás ininterrupta, como o declara São Paulo (Heb 7, 27), é infinitamente suficiente para obter o agrado do Altíssimo, uma vez que corroborada pelos Seus méritos infinitos. Deus, porém, O quis inseparável de sua Mãe Santíssima, na realização de Seu múnus redentor. Por isso, diz muito exatamente São Bernardo, "Deus quis que tudo recebêssemos por Maria". Não era uma exigência que se impunha. Foi uma benignidade inefável do amor divino. Eis que se aplica a estes rogos o princípio geral, segundo o qual, mesmo quando a Ela não recorrem, Ela espontaneamente acode com Sua prece65
E eis, amados filhos, até onde vai a misericórdia divina. Quase diríamos que, para aliviar nossa vergonhosa vida, dispôs Deus que, na reparação de nossa culpa, pudéssemos apresentar junto a Ele, como nosso representante válido e aceito, uma pessoa totalmente da nossa raça. Já é um Mistério inefável da bondade do Senhor prover à Redenção através da humilhação de seu Unigênito, que tomou a forma de escravo e apresentou-se como homem verdadeiro (Fl 2, 7). Pois a misericórdia divina, como que completou sua amabilidade conosco, associando uma pura criatura à obra da Redenção. Deu-nos uma possibilidade de participar no pagamento de nosso débito, de si inteiramente insolvável. Como a nos encarecer que seus favores eram também fruto de uma cooperação nossa, de um membro de nossa família. Verdadeiramente em Jesus, nascido de Maria, aparece a suave benignidade do Salvador nosso Deus. Demos sempre mil graças a Deus!
V
E podemos, amados filhos, concluir.
Que ação de graças não devemos elevar aos Céus, amados filhos, fazer soar válida e harmoniosamente aos ouvidos divinos, por esta inefável e amabilíssima disposição carinhosa da Providência, dando-nos Maria por Mãe, e tornando-a o canal de todas as graças que decorrem da abundância de Suas misericórdias! Tem aqui sua aplicação o dito do salmo: "Sua misericórdia está acima de todas as suas obras". Não há dúvida de que o ponto culminante da misericórdia de Deus é o Verbo Encarnado, a obra-prima de uma bondade que só pode ser divina. Mas, podemos nós separar Maria Santíssima do Verbo Encarnado? Na ordem que aprouve à Providência estabelecer, Maria é elemento indispensável na Encarnação do Verbo. Ela é que, de Sua carne formou o corpo que tornou possível ao Filho de Deus vir a fazer parte da raça humana. De onde, é impossível pensar no Deus Humanado, sem que à mente surja a figura excelsa de sua doce Mãe, Maria.
Por tão amabilíssima disposição, elevou Deus a Maria Santíssima, de certo modo, à participação de sua Paternidade única. Pois, como o Padre Eterno diz com toda a propriedade ao seu Verbo: "meu Filho", assim, Maria pode, com toda propriedade, dizer ao mesmo Filho de Deus: "meu Filho", porquanto em Jesus há uma só Pessoa, a Pessoa do Filho de Deus, e foi esta Pessoa que Maria gerou na natureza humana.
E como as obras de Deus são perfeitas, o Altíssimo associou-A também à Sua inefável misericórdia.
Com toda a verdade aplicamos à Maria o que diz São Paulo da imensa bondade de Deus com relação aos homens: "Não poupou seu próprio Filho, pelo contrário, entregou-O para nossa salvação" (Rm 8, 32). Pois, como o Padre Eterno como que se despojou de seu Filho, esvaziando-O da glória celeste, quando Lhe deu um corpo mortal (Fl 2, 7) a fim de que pudesse imolar-se por nós, sórdidos pecadores; assim, a Virgem Maria, junto à Cruz, no Calvário, com o coração estraçalhado de acerbíssimas dores, não obstante em pé, varonilmente não poupa ao Unigênito bem amado, senão que O entrega à morte atrocíssima por nossa salvação. Não poupou seu Filho, senão que O entregou por todos nós (Rm 8, 32). Associa-se assim, à misericórdia do Padre Eterno, como, de algum modo fora associada à Paternidade, quando deu à luz ao Filho de Deus feito homem.
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Eis que, diante do riquíssimo Mistério da Mediação Universal de Maria, devemos entoar ao Senhor dos Céus e da terra o hino de ação de graças, proclamando com o salmista: "Sua misericórdia está acima de todas as Suas obras".
Depois, reflitamos, amados filhos, com freqüência, sobre a realidade sobrenatural em que vivemos, como verdadeiros filhos de Maria e colocados, por conseguinte, sob a suave ação materna de Maria Santíssima. E lembremo-nos do que diz de si, na Sagrada Escritura, a Sabedoria Increada e que a Sagrada Liturgia coloca nos lábios da Santa Mãe de Deus e Mãe nossa dulcíssima: "Os que agem em mim não pecarão" – "Qui operantur in me non peccabunt"66. Vivamos sob o olhar de Maria, na dependência de Maria. Consagrados inteiramente a Ela, agiremos sempre dentro do ambiente que Lhe é próprio, feito do santo temor de Deus e impregnado de fé, pureza e caridade. Em semelhante ambiente marial não entra o pecado. É nele que agimos em Maria e por Maria e experimentamos a palavra da Escritura: os que agem em Maria não pecarão67.
Essa é a maneira de viver nossa fé na Mediação Universal de Maria. De onde, ou somos lógicos, e nos conservamos no seio materno de Maria, no Seu ambiente próprio, feito de castidade, mortificação do amor próprio e caridade divina e fraterna, ou nossa fé se esvazia, e se torna inútil como o sal insípido que para nada vale e se lança fora (Mt 5, 13).
Para realizarmos o ideal da vida em Maria, precisamos dos auxílios divinos, visto que "sem mim – diz o Senhor – nada podeis fazer" (Jo 15, 5). Pois, a Medianeira de todas as graças nô-los obterá. Habituemo-nos a recorrer, com suma e inabalável confiança, à Maria. Lembremo-nos de que Ela é Mãe, e dá o que de bom Lhe pedimos, pois dispõe do tesouro inesgotável dos méritos de seu Divino Filho, e é por isso, a onipotência suplicante. Não vemos aqui na terra as angústias e quase desespero das mães que não vêem como satisfazer aos desejos de seus filhos? Não pensemos que Maria tem menos sentimentos maternais do que as mães da terra que, apesar de tudo, não conseguem depor totalmente seu egoísmo.
Recorramos, pois, a Maria, com inabalável confiança. Por maiores pecadores que sejamos, não nos falte a convicção de que Maria é poderosa, e quer expulsar o demônio de nossas almas e nos aliviar com as esperanças da vida eterna.
E sejamos assíduos na reza do Rosário, ou ao menos do Terço de Nossa Senhora. Das devoções à Santíssima Virgem, é esta a que nos leva a aprofundar o Mistério da Mediação Universal de Maria. De vez que, no Santo Rosário, entrelaçamos os mistérios da vida de Jesus Cristo e da vida de Maria, de maneira que, por ele, somos levados a assimilar as virtudes e a caridade do Senhor, guiados pelo exemplo e as mãos maternais de Maria.
Enfim, nossa gratidão exige que nos empenhemos por que chegue logo, muito brevemente, o momento feliz e oportuno, determinado pela Providência, em que, pela palavra infalível da Santa Igreja, seja colocada na coroa de glória que adorna a Mãe Santíssima de Deus, a Bem-aventurada Virgem Maria, mais esta estrela luminosa, o dogma de Maria Santíssima Medianeira de todas as graças.
Com esta intenção, desejamos que todos os nossos amados diocesanos rezem todos os dias a súplica "Lembrai-vos" inspirada em sermões de São Bernardo 68 que compendia não somente o amor ardente, a confiança e o devotamento filial que o Doutor Melífluo nutria com relação à Virgem Santíssima, como sua fé na Mediação Universal desse canal de todas as graças, que santifica todos os homens
a Mãe Santíssima de Deus e Mãe amabilíssima dos homens.

Dada e passada sob Nosso Sinal e selo de Nossas Armas na Nossa Episcopal Cidade de Campos, aos dezesseis dias do mês de junho do ano de mil e novecentos e setenta e oito, comemoração de Nossa Senhora do Monte Carmelo
+ Antonio, Bispo de Campos

Pe. Henrique Conrado Fischer, Chanceler


Mandamento


Nomine Domini invocato
Mandamos que esta Nossa Carta Pastoral seja lida e explanada aos fiéis à estação da Missa dominical, e nas reuniões das Associações Religiosas. Um seu exemplar seja arquivado na Paróquia ou Curato e uma breve síntese da mesma seja registrada no libro do Tombo.
Dado e passado em Campos na Nossa Cúria Episcopal, aos dezesseis dias do mês de julho do ano de mil e novecentos e setenta e oito, na Comemoração de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
+ Antonio, Bispo de Campos
Pe. H. C. Fischer, Secretário do Bispado


* * * * *
Lembrai-Vos
"Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à Vossa proteção, implorado a Vossa assistência e reclamado o Vosso socorro, fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, Virgem entre todas singular, como a mãe recorro, de Vós me valho e, gemendo sob o peso de meus pecados, me prosto a Vossos pés. Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia, e de me alcançar o que Vos rogo Amen".

___________________
1. Circular de 23 de maio de 1978.
2. Cfr. a advertência feita pelo Sr. Arcebispo Coadjutor de Aparecida, D. Geraldo de Moraes Penido, em "Notícias", da CNBB, 21-26\5\78.
3. Bossuet fez eco a Santo Agostinho no 2° sermão da 6ª feira da lª Semana da Paixão: "Sua carne [de Cristo] é a Vossa carne, ó Maria, seu Sangue o Vosso sangue" – J. B. Terrien, "Mère de Dieu, Mére des Hommes", P. II, L.V, c. 1
4. Veja-se Gênesis 17, 5; 32, 28; Mt. 16, 18.
5. Sermão 51, c. 2, n.3 – H. Lennerz, "De Beata Virgine", Univ. Greg., 1935.
6. > Símbolo niceno-constantinopolitano, que se recita na primeira parte da Santa Missa
7. Diálogo com Trifão, judeu – J. B. Terrien, O. C., L.1, c. 1
8. Adv. Haereses – Contra as Heresias, L.3, c. 22. Terrien, O. C., P. 2, L. 1, c. 1
9. De Carne Christi – Sobre a carne de Cristo – Lennerz, O. C
10. Assim, São Cirilo de Jerusalém, São Jerônimo, Santo Efrém, Santo Agostinho e outros, como pode ver-se em Terrien, O. C., P.2, L.1, c.1.
11. De Carne Christi – Sobre a carne de Cristo – Lennerz, O. C.
12. "Quod Aeva tristis abstulit \Tu reddis almo germine".
13. II Ped. 3, 16: "Nelas [nas cartas de São Paulo] há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para sua própria ruína, como o fazem também com as demais escrituras".
14. Bula "Ineffabilis Deus", de 8 de dezembro de 1854: "Foi por Deus revelada e por isso deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis, a doutrina que sustenta que a Beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha do pecado original. Tradução da Editora Vozes, Petrópolis – negrito nosso.
15. Abade de Claraval, verdadeiro Doutor Mariano, tão bem escreveu sobre a Virgem Maria, como Medianeira das Graças celestes. A expressão é do Sermão da festa da Natividade de Maria Santíssima, conhecido como "De Aquaeductu", n. 4, Obras completas de São Bernardo, ed. Vivès, Paris, 1867, 3.° vol., p. 402. Se bem que São Bernardo tenha proporcionado a frase – Deus quis que tudo tivéssemos por Maria – de que se têm servido os últimos Papas para exprimir sua persuasão de que Maria é Medianeira de todas as graças, o pensamento, não obstante, remonta ao século II, pois já se encontra explícito nesta frase de Santo Irineu: "Deus quer que Ela seja o principio de todos os dons" – "Vult Deus ipsam omnium donorum esse principium" (Contra Valentinum, c. 33) – Em  C. Boyer, "Synopsis Praelectionum de B. Maria Virgine", Pont. Univ. Greg., Roma, 1946, p. 52.
16. Citado por Lagrange, "L'Evangile de Saint Jean" — comentário ao Cap.17.
17. "Gratias tibi, Domina, \ Quae mater es facta nostra, \ Sub cruce salutífera \ Filio cooperans" – Terrien, O. C., P. II, L. IV, c. IV.
18. Mariale, q.29 – G. Alastruey, "Tratado da Virgem Santíssima", P. III, c. IV.
19. Summa, p.IV, tit.15, c.2 – In Alastruey, o. e 1. c.
20. Encíclica "Quanquam pluries", de 15 de agosto de 1889. Em Alastruey, O. C. 1. c.
21. Encíclica "Ad diem illum", de 2 de fevereiro de 1904.
22. In "Io. Praefatio", n. 6 – Em C. Boyer, O. C. p. 52-53.
23. Em Lagrange, o. e 1. c.
24. "Datur mater discípulo \ Cum maximo mysterio \ Joannis sub vocabulo \ Quivis venit fidelis" – Terrien, o. c, P. II, L. IV, c. 1.
25. Veja-se Terrien, O. C, P.II, L.IV, c.1, II e sg.
26. Encíclica "Adiutricem populi christiani" de 5 de setembro de 1885.
27. Encíclica "Rerum Ecclesiae", sobre as Missões de 28 de fevereiro de 1926.
28. In "La Sainte Bible", Letouzey et Ané, Paris, 1946.
29. Veja-se Emilio Mersch, "Le Corps Mystique", I volume, Descléé, Paris, 1936.
30. Adv. Haereses – Contra as Heresias, L. V., I, 1-3.Em Emilio Mersch, O. C., p. 332, nota.
31. Santo Agostinho, "De Virginitate", c.6. – São Pio X, Encíclica "Ad diem illum" de 2 de fevereiro de 1904.
32. Este argumento é apresentado por São Luís Maria Grignion de Montfort, no seu "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", Cap. 1, art. 1, 2.° Princípio. Na tradução de D. Henrique G. Trindade, Ed. Vozes, n.° 32.
33. Sermão em louvor da SS. Virgem, em C. Boyer, O. C., p. 53.
34. Hom. in S. Mariae Zonam, n.° 5. Em Alastruey, O. C, P.III, c.3., art.I, Cuestión 2. Tesis 3 B; e em J. B. Terrien, O. C, P.II, L.V, c.2.
35. Oratio 37. Em Terrien, O. C., P.II, L.VII, c.4.
36. Sermão na festa da Natividade, "De aquaeductu", n. 7.
37. Em C. Boyer, O. C, p. 54.
38. Tradução de José Pedro Xavier Pinheiro, Atena Editora, São Paulo. O texto original diz: "Donna, se tanto grande e tanto vali, \ Che, qual vuol grazia e a te non ricorre, \ Sua desienza vuol volar senz'ali" (Paradiso, 33, 13-15 – "La Divina Commedia di Dante Alighieri", Edição do centenário da morte do poeta, Ulrico Hoepli Editor, Milão).
39. A.A.S., 1940, p. 145.
40. Bula de 27 de setembro de 1948.
41. "Ampliatio privilegiorum Ecclesiae B. M. V. ab angelo salutatae in coenobio FF. Ord. Servorum B. M. V. Florentiae", anno 1806 – Em Alastruey, O. c., P.III, c.4, art.3, Cuestión 1, Tesis.
42. Encíclica "Ubi primum" de 2 de fevereiro de 1849, em Alastruey, O. c, P.III, c.3, art.1, Cuestión 1, Tesis, 1.° Magistério de los Romanos Pontífices.
43. Encíclica de 22 de setembro de 1897, em Alastruey, O. e l. c.
44. Encíclica de 2 de fevereiro de 1904, em Alastruey, O. e 1. c.
45. A.A.S., 1918, p. 182.
46. Encíclica "Miserentissimus Redemptor" de 8 de maio de 1928, p. 178, A.A.S., 1928, p. 178
47. Encíclica de 29 de junho de 1943, A.A.S., 1943, p. 247-8.
48. Encíclica de 20 de novembro de 1947, A.A.S., 1947, p. 582-3.
49. A.A.S., 1960, p. 641.
50. Exortação Apostólica "Signum Magnum", de 13 de maio de 1967, A.A.S., 1967, p. 468.
51. Is. 55, 1-3 e 5, na festa de Nossa Senhora Medianeira; Prov. 8, 22-24 e 32-35, na festa de Nossa Senhora do Rosário e na da Imaculada Conceição; Ec. 24, 5-7, 9-11 e 30-31, na festa de Nossa Senhora Rainha; Ec. 24, 23-31, na festa de Nossa Senhora de Guadalupe; Ec. 24, 14-16, na festa de Nossa Senhora Auxiliadora.
52. Missa concedida para alguns lugares no dia 27 de novembro.
53. Transcrito de J. B. Terrien, O. C, P.II, L.VI, c.2.
54. Decreto da S. C. dos Ritos, de 21 de janeiro de 1921, A.A.S., 1921, p.345. A concessão foi feita primeiro para a Bélgica. Estendeu-se depois a outros países, inclusive o Brasil, que a via no seu Calendário no dia 1° de outubro.
55. "Cuncta quae nobis meruit Redemptor \ Dona partitur Genitrix Maria".
56. "Senhor Jesus Cristo, nosso Mediador ante o Pai Eterno, que constituístes Medianeira junto a Vós a Virgem Santíssima, Vossa Mãe e também Mãe nossa, fazei que todo aquele que, aproximando-se de Vós, Vos pedir favores, se alegre em alcança-los por seu intermédio. Vós que reinais, etc.", Trad. de D. B. Kekeiser.
57. Élevations sur les mystères, 3ª elevação da 8ª semana.
58. Encíclica Adiutricem populi, de 5 de setembro de 1895, Terrien, O. C., P.II, L.V, c.1.
59. "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", Cap. V, art. 2. Na tradução de D. Henrique Galland Trindade, editada pela Vozes, o trecho citado encontra-se sob o n.° 140. Toda esta obra de São Luís Grignion de Montfort visa criar nos fiéis a convicção profunda de que a Mediação de Maria como Mãe que gera, nutre e aperfeiçoa os membros do Corpo Místico de Cristo, é imprescindível para a salvação. Daí a necessidade de uma Verdadeira Devoção à Maria Santíssima.
60. Oração 46. Em Terrien, O. C., P.II, L.VII, c.2.
61. Dante, "Divina Comédia", Paraíso, c. 33, 16-18. Tradução de Xavier Pinheiro, ed. cit. O texto italiano é o seguinte; "La tua benignita non pur soccorre \ A chi domanda, ma molte fiate \ Liberamente al domandar precorre" (ed. cit.).
62. Oração 46. Negrito nosso. Em Terrien, o. c., P. II, L. VII, c. 2.
63. A expressão da piedade popular resume a afirmação de Papas e teólogos. Veja-se Alastruey, O. C. P.III, c.4, Cuestión 5.
64. Como já notamos, este pensamento está no sermão da Natividade, conhecido como "De Aquaeductu", sob o n.° 7. Análoga metáfora usa São Bernardino de Sena (+1444), para significar a mesma idéia da Mediação Universal de Maria: "Ela é – diz o Santo – o pescoço de nossa Cabeça pelo qual todos os dons espirituais são comunicados ao seu Corpo Místico. Por isso o Cântico dos Cânticos VII declara: Teu pescoço é como uma torre de marfim" (Sermão 10 do 1.° Domingo da Quaresma, e Sermão 4 da Conceição. In Terrien, O. C., P.II, L.VII, c.III, III.
65. Veja-se a Oração da Missa de Maria Medianeira de todas as graças, citada na nota 54.
66. Eclesiástico 24, 30. Trecho lido na Epístola das Missas de Maria Rainha, 31 de maio, e de Nossa Senhora de Guadalupe, 12 de dezembro.
67. São Luís Maria Grignion de Montfort, no seu "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", cap. VIII, art. 2, explana essa Vida em Maria.ou nossa fé se esvazia, e se torna inútil como o sal insípido que para nada vale e se lança fora (Mt. 5, 13).
68. Posterior a São Bernardo, o "Memorare", ou "Lembrai-vos", consoladora súplica dos fiéis do Universo todo, inspira-se sobretudo em dois sermões do Doutor Melífluo, o IV da Festa da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria e o de dentro da oitava dessa mesma festa (D.T.C., vol. II, col. 758). Na edição por Nós usada, os trechos se acham no volume III, p.  387, sob o  n.° 8 e p.  392, sob o n.° 15.

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