Desde que não lhe ponhamos obstáculos, alcança-nos essa
divina Mãe o paraíso, pela eficácia de suas súplicas e de seu patrocínio.
Aquele, por conseguinte, que a serve e conta com sua intercessão, está seguro
do paraíso, como se já ali estivesse. O
servir e ser da sua família, diz Ricardo de S. Lourenço, é das honras a maior;
pois, servi-la é reinar no céu, é viver sob suas ordens, é mais que reinar.
Pelo contrário, prossegue ele, aqueles que não servem a Maria, não se
salvarão; porquanto, destituídos do auxílio da poderosa Mãe, ficam também
privados do socorro do Filho e de toda a corte celeste.
Sempre seja, pois,
louvada a infinita bondade de nosso Deus, exclama S. Bernardo, que foi servido
de constituir Maria nossa advogada no céu, para que ela como Mãe do Juiz e Mãe
de Misericórdia trate do grande problema da nossa salvação. Jacó, monge e
célebre doutor entre os gregos, diz que Deus colocou Maria como ponte de
salvação sobre a qual nos faz atravessar as ondas deste mundo e assim
alcançaremos o tranqüilo porto do céu. Daí então a exortação de S. Boaventura*:
Ouvi, ó vós, desejosos do reino de Deus:
honrai e servi a Virgem Maria, e encontrareis a vida eterna.
Não devem desconfiar de conseguir o reino do céu nem ainda
aqueles que só têm merecido o inferno, se se resolverem a servir com fidelidade
a esta Rainha. Quantos pecadores — exclama S. Germano — buscaram a Deus por
vosso intermédio, ó Maria, e foram salvos! Ricardo de S. Lourenço chama a
atenção sobre o texto do Apocalipse (12, 1), no qual se diz estar Maria coroada
de estrelas, enquanto que nos Sagrados Cânticos ela aparece rodeada de feras,
de leões e de leopardos (Ct 4, 8). Como pode ser isso? É que essas feras —
responde o comentador — são os pecadores que pelo favor e pela intercessão de
Maria se tornam estrelas do paraíso. Formam assim uma coroa que mais convém
para a fronte dessa Rainha de Misericórdia, do que todas as estrelas materiais
do céu. Rezando um dia na novena da Assunção, a serva de Deus Sóror Serafina
Capri (como se lê na sua biografia), pediu à Santíssima Virgem a conversão de
mil pecadores. Mas logo depois temeu fosse talvez muito ousado o seu pedido.
Aparece- lhe a Virgem e repreende-a de seu vão receio com as palavras: Por que duvidas? Por acaso não tenho tanto
poder para alcançar de meu Filho a salvação de mil pecadores? Pois olha que vou
obtê-la agora mesmo. E levada em espírito ao céu por Maria, viu Serafina
inúmeras almas de pecadores que tinham merecido o inferno, mas que pela
intercessão da Virgem estavam salvos e já gozavam da eterna bem-aventurança.
É certo que nesta vida ninguém pode ter certeza de sua
salvação. “Contudo, não sabe o homem se é digno de amor ou de ódio, mas tudo se
reserva incerto para o futuro" (Eclo 9, 1). Entretanto, à pergunta de
Davi: “Quem, Senhor, habitará em teu tabernáculo?”, responde S. Boaventura*: Pecadores, sigamos as pegadas de Maria,
prostremo-nos a seus pés, e não a deixemos até que nos abençoe, porque sua bênção nos será qual penhor do paraíso.
Basta, Senhora, escreve Eádmero, que vós queirais salvar-nos, que não poderemos
deixar de ser salvos. Garante S. Antonio que as almas patrocinadas por Maria
necessariamente se salvam.
Com toda razão, diz
S. Ildefonso, profetizou a Santíssima Virgem que todas as nações a chamariam
bem- aventurada, porque é por meio de Maria que os eleitos obtêm a eterna
bem-aventurança. Sois, ó grande Mãe, princípio, meio e fim de nossa
felicidade, exclama S. Metódio. Princípio, porque Maria nos alcança o perdão
dos pecados; meio, porque nos obtém a perseverança; fim, porque ela finalmente
nos consegue o paraíso. Por vós,
prossegue S. Bernardo, foi aberto o céu, foi despojado o inferno, foi
restaurado o paraíso: por vós, em suma, foi dada a vida eterna a tantos
miseráveis que só a eterna morte mereciam.
Mas, sobretudo, a bela promessa de Maria deve animar-nos a
esperar com segurança o paraíso. A todos os seus servos especialmente aos que
buscam fazê-la conhecida e amada de todos, por palavras e exemplos fez a
seguinte promessa: “Os que trabalham por
mim não pecarão; aqueles que me esclarecem terão a vida eterna’ ’ (Eclo 24,
30). Ditosos, pois, aqueles, conclui S. Boaventura*, que adquirem o favor de
Maria; estes desde logo serão conhecidos dos bem-aventurados, por seus
companheiros; e quem tiver o caráter de servo de Maria, será registrado no livro
da vida. De que serve, pois, inquietarmo- nos com as sentenças das escolas
sobre se a predestinação para a glória é antes ou depois da previsão dos
merecimentos? Se estamos ou não inscritos no livro da vida? Se somos
verdadeiros servos de Maria e estamos sob o seu patrocínio, seremos então
certamente do número dos eleitos. Pois, conforme S. João Damasceno, a devoção a essa Mãe, Deus concede-a somente
àqueles a quem quer salvar. Tal sentença concorda com o que diz o Senhor
por boca de S. João: Aquele que vencer... escreverei sobre ele o nome de meu
Deus e o nome da cidade de meu Deus (Ap 3, 12). Quem houver de vencer e
salvar-se trará escrito no coração o nome da cidade de Deus. Mas quem é essa
cidade de Deus senão Maria? A ela refere S. Gregório as palavras do Salmo:
Coisas gloriosas se têm dito de ti, cidade de Deus (86, 3).
Bem podemos, por conseguinte, dizer com S. Paulo: Quem tem
este sinal, Deus o reconhece por seu (2 Tm 2, 19). Que por isso a devoção para
com a Mãe de Deus é indício certíssimo de salvação, afírma-o Pelbarto. O Beato
Alano de Rupe, falando da Ave-Maria, disse: Quem honra freqüentemente a Virgem com esta angélica saudação tem um
sinal muito grande de predestinação. E
o mesmo diz da perseverança na recitação cotidiana do rosário. Além disso,
conforme Nieremberg, os servos de Maria não só na terra são mais privilegiados
e favorecidos, mas também no céu serão mais distintamente honrados. Aí terão
uma veste principesca pela qual serão conhecidos como familiares da Rainha do
céu, por pessoal da corte, segundo o dito dos Provérbios: Porque todos os seus
domésticos trazem vestidos forrados (31, 21).
Um dia viu S. Madalena de Pazzi numa visão uma barquinha no
meio do mar. Nela estavam refugiados todos os devotos de Maria, que, fazendo
ofício de piloto, seguramente os conduzia ao porto. Compreendeu logo a Santa que
quantos no meio dos perigos desta vida vivem sob a proteção de Maria, todos são
preservados do naufrágio do pecado e da condenação; porque Maria seguramente os
guia ao porto do paraíso. Tratemos, pois, de entrar nessa bendita nau que é a
proteção de Maria; aí fiquemos na certeza da eterna bem-aventurança, como a
Igreja canta: Santa Mãe de Deus, todos
aqueles que hão de participar dos gozos eternos habitam em vós, vivendo sob a
vossa proteção.
Exemplo
Conta-se nas Crônicas Franciscanas que Frei Leão viu uma vez
em visão duas escadas, uma branca e vermelha a outra. Sobre a última estava
Jesus Cristo e sobre a primeira estava sua Mãe Santíssima. Reparou como alguns
tentavam subir pela escada vermelha. Mas caíam logo depois de subirem alguns degraus;
tornavam a subir e outra vez caíam. Foram avisados de que deviam subir pela
escada branca, e por essa os viu subir felizmente, porquanto a Santíssima
Virgem lhes dava a mão, e assim chegavam seguros ao paraíso.
Nota — Essa visão é como um comentário para as palavras que
Leão XIII e Bento XV haviam de escrever: “Como só pelo Filho nós chegamos ao
Pai, assim ao Filho ninguém chega senão por meio de sua Mãe” (Nota do
tradutor).
Oração
Ó Rainha do paraíso, Mãe do santo amor, sois entre todas as criaturas a
mais amável, a mais amada por Deus e aquela que mais o ama. Consenti que também
vos ame um pecador, que é o mais ingrato e miserável dos que vivem na terra.
Por vosso intermédio, vejo-me livre do inferno e sem mérito algum de tal modo
cumulado de benefícios por vós, que agora me sinto todo enamorado de vós.
Quereria, se pudesse, fazer saber a todos quantos vos não conhecem,
quão digna sois de ser amada, para que todos vos conhecessem e amassem. Quereria
também morrer por vosso amor, em defesa de vossa virgindade, de vossa dignidade de Mãe de Deus, de vossa
Imaculada Conceição, se fosse preciso dar a vida para defender essas vossas
sublimes prerrogativas.
Ah! Mãe diletíssima, aceitai o meu afeto e não permitais que um vosso
servo, que vos ama, venha a ser inimigo de vosso Deus, a quem tanto amais. Ai
de mim! que tal já fui, quando ofendi a meu Senhor. Mas então, ó Maria, eu não
vos amava, nem buscava vosso amor. Agora, porém, nada mais desejo, depois da
graça de Deus, que amar a minha Rainha e ser honrado com o seu amor. Minhas
culpas passadas não me fazem perder a confiança, pois sei que vos dignais amar,
é benigníssima e gratíssima Senhora, até os mais miseráveis pecadores que vos
amam, e sei também que por ninguém vos deixais vencer em amor.
Ah! Rainha amabilíssima, quero ir amar-vos no céu. Aí, prostrado a
vossos pés, melhor conhecerei como sois amável e quanto tendes feito para minha
eterna bem- aventurança. Por isso então muito mais vos ei de amar, sem receio
de deixar de o fazer algum dia. Ó Maria, tenho a esperança de salvar-me por
vosso auxílio. Rogai a Jesus por mim. Nada mais vos peço. A vós compete
salvar-me: sois minha esperança. Quero, portanto cantar sempre: Ó Maria,
esperança minha, por vós verei a Deus um dia.
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