Foi para dispensar-nos todas as misericórdias possíveis,
afirma S. Bernardo, que o Eterno Pai, além de Jesus Cristo, nosso principal
advogado, nos deu ainda Maria Santíssima como advogada. Não há dúvida, Jesus é
o único medianeiro de justiça entre Deus e os homens, o único que em virtude
dos próprios méritos nos pode obter graça e perdão, e de acordo com suas
promessas também o quer. Mas como em Jesus Cristo reconhecem e temem os homens
a majestade divina, aprouve a Deus dar-nos outra advogada a quem recorrer
pudéssemos com maior confiança e menor receio. E temo-la em Maria, fora de quem
não acharemos outra nem mais poderosa para a Divina Majestade, nem mais
misericordiosa para conosco. Grande injúria faz à piedade desta amável advogada
quem se intimida de vir à sua presença. Pois ela nada tem de severo e de
terrível, mas é toda suavidade, toda clemência, toda amabilidade. Lê e relê quanto quiseres, prossegue S.
Bernardo, o que está escrito nos Santos Evangelhos, e se encontrares um só ato
de severidade em Maria, então teme chegar-te a seus pés. Mas o não acharás em
parte alguma. Recorre, pois, a ela alegre e confiadamente, que por sua
intercessão ela te salvará.
Belíssimas são as palavras que Guilherme de Paris faz o
pecador pronunciar diante de Maria: Ó Mãe
de meu Deus! Reduzido à miséria por muitos pecados, a vós recorro cheio de
confiança. Se me repelirdes, mostrar-vos-ei que estais em certo modo obrigada a
ajudar-me, porque toda Igreja dos fiéis chama e clama que sois Mãe de
Misericórdia. Porque Deus muito vos quer, também sempre atende vossos
rogos. Jamais falhou vossa grande piedade; vossa dulcíssima afabilidade repeliu
nunca pecador algum, ainda de todos o maior, que a vós se tenha recomendado.
Como então? Será falsamente ou em vão que a Igreja toda vos denomina advogada
sua e refúgio dos miseráveis? Que minhas culpas, ó minha Mãe, não vos impeçam
de exercer esse grande ministério de misericordiosa advogada e medianeira de
paz entre Deus e os homens, como seguro refúgio e única esperança dos
miseráveis. A quem deveis vossa riqueza em graça e em glória e mesmo vossa
dignidade de Mãe de Deus? Posso dizê-lo? Deveis aos pecadores tudo quanto
possuís; por causa deles o Verbo Divino vos elegeu para sua Mãe. Assim, pois,
já que é vosso ofício ser medianeira entre Deus e os homens, assisti-me pela
vossa grande bondade, a qual é incomparavelmente maior que todos os meus
pecados.
Consolai-vos, pois ó tímidos, direi eu com Pacciuchelli; respirai e animai-vos, ó miseráveis
pecadores! Essa Virgem excelsa, Mãe de vosso Deus e vosso Juiz, é ao mesmo
tempo advogada do gênero humano. Mas é uma advogada competente que tudo
pode junto de Deus; sapientíssima,
porque conhece todos os modos de aplacá-lo; universal,
porque a todos socorre e a ninguém recusa defender.
Exemplo
Numa missão pregada pelos Padres Redentoristas, após o
sermão de Nossa Senhora, veio confessar-se um velho que não cabia de si de
contene.
-Sr. Padre, Nossa Senhora me faz essa graça tão grande,
disse o velho. Mas que graça? Perguntou-lhe o sacerdote. Ouça, reverendo: Desde
a idade de 35 anos me venho confessando sacrilegamente, só por vergonha de
contar um pecado. Durante esse tempo estive à morte e, se então a morte me
surpreendesse, estaria agora condenado. Mas hoje deu-me Nossa Senhora coragem.
Dizia o pobre tudo isso por entre lágrimas que muito comoviam. Depois da
confissão, perguntou-lhe o missionário se venerava a Santíssima Virgem com
alguma prática religiosa. Contou-lhe o velho então que aos sábados
abstinha-se de carne e por isso Nossa Senhora dele se compadecera. Ao mesmo
tempo autorizou a narração deste fato.
Oração
Ó grande Mãe de meu Senhor, sei que a ingratidão que há anos tenho
usado com Deus e convosco, justamente merecia que deixásseis de ter cuidado de
mim; porque o ingrato é indigno de benefícios. Mas tenho, Senhora, em grande
conceito vossa bondade; estou certo que ela é muito maior que a minha grande
ingratidão. Continuai, pois, ó refúgio dos pecadores, e não deixeis de socorrer
um miserável, que em vós confia. Ó Mãe de Misericórdia, daí a mão a um pobre
caído, que recorre à vossa piedade a fim de se poder levantar. Ó Maria, ou
defendei-me ou dizei-me quem melhor que vós me possa defender. Mas onde posso
eu achar uma advogada junto a Deus mais compadecida, ou mais poderosa do que
vós, que sois sua Mãe? Como Mãe do Salvador, nascestes para salvar os pecadores
e a mim fostes dada para minha salvação. Ó Maria, salvai quem a vós recorre. Eu
não mereço o vosso amor; mas o desejo que tendes de salvar os perdidos me faz
esperá-lo. E amando-me vós, como me perderei? Ó minha Mãe muito amada, se por
vossa intercessão me salvo, como espero, nunca mais vos serei ingrato. Compensarei
com louvores perpétuos e com todos os afetos da minha alma o meu passado
esquecimento e o amor com que me tendes amado. No céu, onde vós reinais, e
reinais eternamente, sempre cantarei as vossas misericórdias, e beijarei sempre
aquelas vossas amorosas mãos, que tantas vezes me têm livrado do inferno,
quantas eu o tenho merecido com os meus pecados. Ó Maria, minha libertadora, ó
minha esperança, ó Rainha, ó advogada, ó minha Mãe, eu vos amo, eu vos quero
muito e sempre vos quero amar. Amém, Assim o espero, assim seja.
(Glórias de Maria – Santo Afonso Maria de Ligório)
*Grifos meus.
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