Considera S. Pedro Damião o grande poder de Maria e nestes
termos implora a sua compaixão: Que vossa natural bondade e vosso poder vos
levem a ajudar-nos, porque tão misericordiosa haveis de ser, quão poderosa
sois. Ó Maria, querida advogada nossa,
na rica piedade de vosso coração não podeis ver infelizes sem que deles tenhais
compaixão; e na riqueza de vosso poder junto de Deus salvais a todos quantos
protegeis. Dignai-vos também patrocinar nossa causa, causa de infelizes que
em vós põem suas esperanças. Se não vos moverem nossos rogos, deixai-vos então
levar pelo vosso bondoso coração, pelo vosso grande poder ao menos. Pois de
tanto poder enriqueceu-vos o Senhor, para que tão misericordiosa fosseis em
ajudar-nos, quão poderosa sois para fazê-lo. – Mas disto nos assegura S.
Bernardo, dizendo que Maria, tanto em
poder como em misericórdia, é sumamente rica; assim como a sua caridade é
poderosíssima, também assim é piedosíssima para se compadecer de nós, como
sem cessar no-lo revela.
Enquanto Maria viveu
na terra, seu constante pensamento, depois da glória de Deus, era ajudar os necessitados.
Sabemos que desde então já gozava o privilégio de ser ouvida em tudo o que
pedia. Haja em vista, por exemplo, o que se passou nas bodas de Caná, na
Galiléia. Veio a faltar o vinho, com vexame e contratempo então para os
esposos. Cheia de compaixão, a Santíssima Virgem pediu ao Filho que os
consolasse com um milagre. Expôs-lhe a necessidade em que se viam, dizendo:
Eles não têm vinho (Jo 2, 3). Respondeu-lhe Jesus: “Que há entre mim e ti,
mulher? A minha hora ainda não chegou”. Note-se que aparentemente o Senhor
sonegou a graça desejada por sua Mãe, com as palavras acima citadas: Que
importa a mim e a ti essa falta de vinho? Por enquanto não me convém fazer um
milagre, cuja hora ainda não soou. Ela virá com o tempo de minha pregação, no
qual devo confirmar com milagres a minha doutrina. Contudo, Maria, como se o
Filho a tivesse atendido, disse aos criados: “Fazei tudo o que ele vos disser”!
Eia, ânimo, sereis consolados! E com efeito, Jesus Cristo para dar gosto a Maria
mudou a água em ótimo vinho. Mas como assim? Se o tempo prefixado para os milagres
era o da pregação, como é que, mudando a água em vinho, antecipou Jesus os
decretos divinos? A isso responderemos que nada houve de encontro aos decretos
divinos. De fato, geralmente falando, não era ainda chegada a hora dos
milagres. Entretanto já desde toda a eternidade havia Deus estabelecido que
jamais rejeitaria um pedido de sua Mãe. Ciente de tal privilégio, disse Maria
aos criados, apesar da aparente recusa de seu Filho, que fizessem tudo o que
ele lhes mandasse, como se a desejada graça já houvesse sido outorgada. O mesmo
diz um comentário de S. João Crisóstomo à sobredita passagem: Não obstante ter o Senhor dado aquela
resposta, todavia, para honrar sua Mãe, não deixou de atender-lhe o pedido.
É igual o comentário de S. Tomás: Com as
palavras “Não é chegada a minha hora”, quis Jesus mostrar que teria diferido o
milagre, caso qualquer outra pessoa lho tivesse pedido; mas porque a Mãe o
solicitou, fê-lo imediatamente. Segundo Barradas, são da mesma opinião S.
Cirilo de Alexandria e S. Ambrósio e também Jansênio, Bispo de Grandes.
(Glórias de Maria – Santo Afonso Maria de Ligório)
*Grifos meus.
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